4,5 mil é o número de pessoas que o Centro Cultural Boqueirão atende anualmente, segundo a diretoria do espaço. A maioria desse público é composto por estudantes de 15 escolas da região.
Planos de expansão
Quando criou o teatro do Centro Cultural Boqueirão, em 2010, a diretoria do espaço começou a planejar uma série de reformas na infraestrutura do local. O projeto ao lado mostra como ficaria a nova sede que, além do auditório, teria salas específicas para dança, ateliês e exposições. O projeto está engavetado há quatro anos, por falta de recursos. "Se resolvermos nossa instabilidade com o proprietário, devemos dar continuidade nessa expansão", diz Márcio Roberto Gonçalves, membro da diretoria do CBB.
Possíveis soluções
Investimento público
Uma das possíveis soluções para o CCB é uma intervenção das gestões municipal ou estadual. Recentemente, Gonçalves diz que recebeu orientações de Marcos Cordiolli, presidente da Fundação Cultural de Curitiba, para sondar novos terrenos na região do Boqueirão. A sugestão veio sem garantias de apoio financeiro
Financiamento empresarial
Enquanto busca suporte no governo, a administração do espaço também recorre às entidades privadas, com intenção de firmar parcerias e possivelmente adquirir o terreno que hoje pertence à Arquidiocese de Curitiba
Fim da sede física
Uma saída pessimista para o impasse do CCB seria o encerramento das atividades em uma sede própria. O que levaria a administração a agir em espaços emprestados e sem garantia em relação à continuidade das produções teatrais e das oficinas gratuitas
Se não encontrar uma nova sede, o Centro Cultural Boqueirão (CCB) pode encerrar suas atividades até o fim de 2015. Atualmente, o espaço fica em um terreno que pertence à Arquidiocese de Curitiba, que precisa retomá-lo devido a uma reorganização interna. A entidade está disposta a dar mais tempo aos ocupantes, que correm para encontrar uma saída para o impasse.
Vinte minutos distante do Centro de Curitiba, o CCB é um dos poucos locais que cumprem o papel de descentralizar as produções artísticas na capital paranaense. Além de estar no circuito de eventos como a Corrente Cultural e o Festival de Teatro de Curitiba (FTC), o espaço também produz espetáculos teatrais e oferece cursos gratuitos de teatro, dança e música.
Márcio Roberto Gonçalves, membro da diretoria do CCB, revela que as atrações por lá são contínuas e voltadas para a comunidade, com foco em 15 escolas da região. "Atendemos a um público de 4,5 mil pessoas anualmente", diz. Com exceção das peças no FTC, as programações são gratuitas o ano todo. As oficinas, que ocorrem aos fins de semana, têm cerca de 60 estudantes.
"Somos sensibilizados com a função social do Centro Cultural, mas precisamos do terreno. Não é algo imediato, mas para o próximo ano", esclarece o Padre José Aparecido Pinto, ecônomo da Arquidiocese de Curitiba, que afirma estar apreensivo com o destino do espaço.
História
Gonçalves foi um dos responsáveis por fundar o CCB, em 2007. Produtor cultural e "filho do Boqueirão", como descreve a si mesmo, ele sentia necessidade de criar um local para fomentar o interesse artístico no bairro. "Conseguimos a sede com a igreja e começamos a trabalhar com o apoio do governo federal", conta.
Hoje, o CCB faz parte do projeto Ponto de Cultura, programa de disseminação de iniciativas culturais comunitárias financiado pelo Ministério da Cultura (MinC). As montagens próprias são financiadas por meio de editais de fomento ao teatro. Algumas dessas produções foram vencedoras de troféus Gralha Azul, como é o caso Flicts (2011) e Teimosinho e Mandão (2008). Até 31 de agosto, o teatro tem apresentações gratuitas da adaptação de O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, com direção de Edson Bueno.
Alguns colégios da região pautam o calendário a partir da programação teatral do espaço. É o caso da Escola Municipal Lapa, com alunos do primeiro ao quinto ano, que em janeiro reserva as datas em que serão apresentados espetáculos infantis para levar os estudantes. "O Centro é a referência cultural de nossa comunidade. Não temos outros lugares no bairro para ampliar o horizonte dos estudantes como ali", diz Marisléia Pereira da Veiga, diretora da instituição.
Saídas
Além de manter conversas constantes com a Arquidiocese, a diretoria do espaço também tem buscado auxílio com a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e com a prefeitura. "[O Presidente da FCC] Marcos Cordiolli tem conversado conosco, mas não deu garantia de apoio financeiro ainda", revela Gonçalves. Procurado pela reportagem, Cordiolli afirmou que "o espaço é uma entidade privada que cumpre um papel importante para a comunidade do bairro."
Além das gestões públicas, a administração do CCB também tem abordado a iniciativa privada em busca de recursos. O espaço tem contrato com o governo federal para ser Ponto de Cultura até 2016. Além disso, tem programado duas produções para os próximos meses: Viagem ao Centro da Terra e A Arca de Noé, ambas dirigidas por Edson Bueno, um dos maiores parceiros do espaço. Depois disso, seu destino é incerto.
Espaços teatrais de Curitiba sofrem com falta de apoio
"É muito difícil viver da bilheteria das apresentações", desabafa o diretor teatral Edson Bueno. Preocupado com o destino incerto do Centro Cultural Boqueirão, que pode fechar as portas, ele relembra outros espaços voltados ao teatro na cidade que passaram pela mesma situação. Nos últimos dez anos, espaços como o Teatro Odelair Rodrigues, o ACT / Espaço Cênico e a Casa Vermelha encerraram as atividades por falta de apoio de empresas e do governo.
Nacionalmente, um dos casos mais recentes envolvendo essa situação foi o do Centro Internacional de Teatro Ecum, em São Paulo. Lutando contra a especulação imobiliária, a classe artística da cidade está tentando reverter o fechamento do espaço, que ocorreu no início de junho deste ano. A estratégia é tombar o prédio como patrimônio histórico, algo que ocorreu por aqui com o Teatro José Maria Santos, antes um teatro particular chamado de Teatro da Classe, que estava para fechar as portas.
Quem sofre mais com a falta de apoio de gestões municipais e estaduais são os espaços que estão fora do circuito tradicional da cidade. Além do CCB, o Vila Hauer Cultural é outro centro artístico voltado para a comunidade mantido por altruísmo por um grupo de pessoas. Criado pelo cenógrafo Alfredo Gomes Filho, o teatro hoje faz parcerias com companhias locais e também tem produções próprias. "E pago pelo aluguel do meu próprio bolso", garante o mantenedor, que ocupa um espaço da família.
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