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Produtor de filmes B busca recursos para novo filme, em "O Crocodilo" | Divulgação/Downtown Filmes
Produtor de filmes B busca recursos para novo filme, em "O Crocodilo"| Foto: Divulgação/Downtown Filmes

A imprensa brasileira é boa ou não é? Eis a pergunta que não quer calar. Ao mesmo tempo em que tem sido fundamental para desvendar escândalos que de outra maneira ficariam ocultos, a mídia nacional tem sido duramente criticada por ser supostamente ineficiente e vazia. A resposta de Caco Barcellos, um dos mais experientes e premiados jornalistas do país, é simples: a imprensa é eficiente quando quer ser. Parece discurso fácil? Pois ele dá o exemplo de como isso funciona.

Desde que o avião da TAM caiu em São Paulo, a imprensa nacional tem feito um trabalho de primeira: sabe-se muito sobre o avião, o aeroporto, a reforma e sobre todas as circunstâncias que mataram as 199 pessoas em Congonhas. Sabe-se o nome das vítimas e a história pessoal de várias delas. E é assim mesmo que tem que ser: a população tem o direito de ser bem informada, sempre.

Pois bem: alguns dias antes, a polícia matou, em um só dia, 19 pessoas no Complexo do Alemão. "Nem os nomes das pessoas foram publicados", comenta o repórter. A diferença talvez seja que os mortos do Rio de Janeiro eram pobres. E morreram em uma favela. "A imprensa nem vai nesses lugares", diz ele. Quando vai, é porque o conflito já estourou. "Chega com tiro para todo lado, não dá para conversar com ninguém", diz.

Esse "ranço classista" seria, de acordo com Barcellos, uma das principais características da imprensa brasileira. E o repórter tem o respaldo de seu trabalho para fazer a crítica. Barcellos é autor de três livros: um sobre a revolução sandinista na Nicarágua; outro sobre a violência policial contra os pobres em São Paulo; e o terceiro sobre o traficante que se tornou "dono" de um morro no Rio de Janeiro. Sempre esteve no local para ouvir todos os lados, incluindo traficantes e policiais acusados de execuções.

Agora, leva sua experiência para um programa televisivo que, segundo ele, ainda está em fase experimental. O Profissão: Repórter, atualmente um quadro do Fantástico, da Rede Globo, vai se transformar lentamente em um programa maior. Neste mês, estréia o primeiro especial de 40 minutos. Nele, Barcellos e um grupo de jornalistas novatos fazem reportagem de rua. Mostrando todos os lados e todas as classes.

Nesta semana, Barcellos fez uma palestra em Curitiba para os integrantes do projeto Foca-RPC, que treina jovens jornalistas para trabalho em tevê e jornal impresso. Em seguida, concedeu uma entrevista ao Caderno G. Acompanhe a seguir os principais trechos da conversa.

Caderno G – A imprensa trata ricos e pobres de maneira diferente?Caco Barcellos – Existe um ranço classista muito forte. Em muitos lugares, a pauta é baseada nessa divisão. A imprensa parece acreditar que existem aqueles que merecem a defesa dos seus interesses de maneira acentuada. E que existem outros que não merecem a mesma eficiência, a mesma atenção. É o caso do avião da TAM e dos mortos no Complexo do Alemão. Em um caso, a imprensa descobriu muita coisa e muito rapidamente. Deu um exemplo de eficiência. No outro, a polícia atirou, matou, executou e não tivemos nenhuma eficiência. A imprensa nem vai nesses lugares. Aliás, acho curioso como alguns jornalistas gostam de emitir opinião sobre crime e violência sem nunca conhecer essa realidade de perto, sem ir aos lugares. É uma irresponsabilidade. Acho que o espírito do Carlos Lacerda está muito vivo nas redações.

Essa diferença se repete em outros casos?Sim. No Profissão: Repórter, fizemos uma cobertura do julgamento do caso Suzane von Richtoffen (a jovem rica envolvida no assassinato dos próprios pais). Fizemos um levantamento de outros homicídios que aconteceram na mesma época. Pesquisamos 350 casos. No caso Suzane, a polícia foi capaz de fazer uma pesquisa ampla, produziu 3,8 mil páginas de documentos. Em muitos outros casos, nenhuma testemunha tinha sido ouvida. Achamos um caso de um jovem que havia matado a própria mãe, um crime muito semelhante. O processo tinha 18 páginas. Do lado da imprensa, a cobertura do caso Suzane foi exaustiva. De todos esses 350 outros casos, achei sete linhas em um jornal, o Diário de São Paulo. Acho isso revoltante.

Você dedica boa parte do seu esforço como repórter, especialmente nos livros, para assuntos de fundo social. Há um viés ideológico nisso?Talvez, não sei. Mas, no fundo, é uma questão objetiva, simplista. Tem relação com a consciência do dever social da profissão. Trabalho no Brasil e a maioria dos brasileiros é pobre. Se eu morasse na Suíça, talvez escrevesse pensando na classe média alta. Mas não é essa a nossa realidade. Tenho que me pautar pelo interesse da maioria.

Você está há um ano trabalhando no Profissão: Repórter. O que mais empolga nesse projeto?É o entusiasmo dos jornalistas novos, recém-formados. Acho que, com o passar do tempo, esse encanto estava se perdendo. Hoje, os alunos de jornalismo pensam mais em se transformar em apresentadores de tevê. E esse grupo tem um grande entusiasmo pela reportagem. Nós, no grupo que faz o programa, chegamos à conclusão de que existem mil maneiras de contar uma história. Mas, para nós, a melhor maneira continua sendo a reportagem.

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