Os murais com os traços inconfundíveis do artista Poty Lazzarotto quase se misturam com a paisagem de Curitiba é impossível ver os desenhos de Poty sem relacioná-los diretamente a ele. Essa identificação com a sua cidade é uma marca forte de seu trabalho, afinal de contas, tanto Curitiba como Poty aniversariam hoje (se estivesse vivo, completaria 88 anos). Para celebrar um dos maiores artistas gráficos do país e comemorar os 319 anos da capital paranaense, o Museu Oscar Niemeyer inaugura hoje, às 19 horas, Poty, de Todos Nós. A mostra, que traz obras inéditas e mais de 800 itens, ocupa o salão principal do MON, o Olho (Veja o serviço completo da exposição no Guia Gazeta do Povo).
FOTOS: Veja imagens da exposição
Com curadoria do mestre do design Oswaldo Miranda, o Miran, que teve como assistente o designer Lucio Barbeiro, da Gazeta do Povo, a exposição é uma celebração a Poty, e passa por diversas fases começa com a infância e o desenvolvimento de seu desenho, passa pelos registros familiares, gravuras e retratos que o artista fez de amigos ao longo dos anos. "Consegui obras inéditas e pertinentes, os sketches de seus cadernos de viagem, esboços de projetos de murais e uma série de estudos para as obras", conta Miran. Seu trabalho de ilustração editorial (Poty desenhou as capas de livros como Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa) e entalhes em madeira, considerados raros, também estão na mostra. Há materiais íntimos de Poty, como os bilhetes bem-humorados que escrevia para a esposa, Célia.
Grande parte do material pertence ao acervo da Fundação Poty, dirigida pelo irmão do artista, João Geraldo Lazzarotto, que conta com uma equipe de restauradores para catalogar e proteger as obras. O irmão guardou várias fotografias da infância e juventude de Poty, da primeira exposição (feita em uma sala na Travessa Oliveira Belo), além dos registros do restaurante de seus pais (Júlia e Isaac), o Vagão do Armistício, ponto de encontro de políticos e intelectuais e popular pela receita do risoto de dona Júlia. "Naquele tempo [década de 1940], o senhor Ribas [Manoel Ribas, então governador do estado] era frequentador e o Poty já desenhava. Ele [Ribas] viu o trabalho e logo meu irmão foi premiado com uma bolsa para estudar na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro", conta Lazzarotto. Outras obras foram cedidas por colecionadores, como Fernando Frantz, que possui um dos entalhes em madeira e uma caricatura do escritor Dalton Trevisan feita por Poty.
Essência
Na parte artística, a opinião unânime é a de que Poty Lazzarotto conseguiu ser um profissional consagrado e ao mesmo tempo acessível, sobretudo por conta de seus murais. "A penetração do seu trabalho, principalmente no povo paranaense, é muito forte", ressalta Miran. Para Frantz, Poty conseguiu sintetizar a sociedade. "Ele mostra o operário, o ferreiro, o bordel. O Brasil como ele é, e não como o estrangeiro vê. Foi um artista social". Pessoalmente, Poty é lembrado como alguém de fácil acesso e trato. A historiadora Noemi Ribeiro teve a oportunidade de trabalhar com ele na década de 1980, no Rio de Janeiro, quando o artista reimprimiu algumas gravuras antigas para doar ao Museu Nacional de Belas Artes. "Ele morava em um apartamento na Rua Senador Vergueiro, e fiz as impressões para ele, já que na época eu era gravadora. A gente batia um papo excelente. Poty tinha uma coleção de pôster de cinema espetacular. Aprendi muito."
Serviço: Poty, de Todos NósMuseu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999), (41) 3350-4400. Inauguração hoje, às 19 horas. Entrada franca na inauguração. 3ª a dom. das 10h às 18h. R$ 4 e R$ 2 (meia-entrada). Até 5 de agosto.
Interatividade
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