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Sul-coreana vivendo hoje em Cingapura, Suzy Lee estudou Belas Artes na sua terra natal e depois partiu para Londres, onde fez uma pós-graduação na área. A artista gráfica se tornou conhecida pelos livros-imagens que cria e, com eles, participou de eventos importantes – da feira literária de Frankfurt, na Alemanha, à de Bolonha, na Itália.

No Brasil, a Cosac Naify acaba de publicar Sombra, fechando a Trilogia da Fronteira, da qual fazem parte Onda e Espelho. Criar um mundo sem palavras pode parecer simples, mas implica em dificuldades imensas. Narrar uma história sem texto e se fazer entender por leitores de línguas e experiências diferentes é uma arte.

Na entrevista a seguir, feita por e-mail, Suzy Lee explica seu método de trabalho, fala sobre a melhor forma de ler um livro-imagem e conta uma história bonita sobre sua viagem ao Brasil.

Você poderia, por favor, falar um pouco sobre o processo de criação dos seus livros? Como você os desenvolve? Há um roteiro que antecede as ilustrações?

No caso de livros-imagens, sem nenhuma palavra, existe um storyboard [esboço narrativo na forma de desenhos], que é o equivalente ao roteiro que você mencionou. Mas a diferença é que não existem palavras, apenas imagens. Para mim, algumas histórias surgem antes na forma de imagens. E esse livro de inspiração visual é todo elaborado com figuras. Por exemplo, a ideia para Sombra veio do formato do livro e da forma como ele abre. Imaginei a história enquanto tentava criar um terceiro e último livro do mesmo tema, dentro da Trilogia da Fronteira. Quando as imagens estão reunidas, a história surge por conta própria. Se o storyboard flui bem e é bom de ler, eu começo a trabalhar nas ilustrações.

Os seus três livros publicados no Brasil falam, de alguma forma, sobre descobertas e aprendizados, o que parece ser um tema perfeito para livros que miram também as crianças. O que a interessa nesses temas?

Curiosidade é a qualidade inata mais notável nas crianças. E as crianças vivem o presente de modo voraz e entram na fronteira entre realidade e fantasia sem nenhum medo. Naturalmente, elas aprendem tudo através de "experiências". Não existe outra forma de adquirir conhecimento, a não ser ir adiante e experimentar. Assim, a garota em Onda cruza a fronteira e entra no mar. O que parece um sonho aos olhos de adultos pode ser um momento de realidade indesviável para crianças que estão envolvidas completamente. À medida que as roupas da criança em Onda vão se tornando azul, ela cresce e se transforma por meio de brincadeiras e da imaginação.

Aqui em Curitiba, existe uma livraria especializada em livros infanto-juvenis. Numa conversa com a dona da loja, ela me contou que os seus livros viraram febre entre designers e arquitetos, dentro e fora das universidades. O que acha disso?

Todos os livros da trilogia são classificados para "todas as idades". Gostaria de criar um livro com camadas de complexidade que podem atrair vários leitores. Crianças leem os meus livros da maneira que acham melhor, e recebo uma quantidade grande de e-mails de "avós" que compraram Onda para os netos e encontraram no livro o mar impressionante de suas infâncias. Algumas pessoas preferem encontrar coisas mais complicadas nas minhas obras – eu também tentei abordar o tema "um livro sobre um livro" na minha trilogia. Meu interesse está na fronteira da costura do livro [que delimita o meio entre duas páginas] e, ao mesmo tempo, na fronteira entre fantasia e realidade. Se alguém gostar da estética e da estrutura dos meus trabalhos, eu me sinto realizada como artista.

Tenho a impressão que um livro-imagem pede outro tipo leitura, mais próxima da interação exigida por uma obra de arte. Como você lê um livro-imagem?

Ao ler um livro ilustrado, a primeira coisa que chama a atenção é a figura. Depois você vai ler o texto, se houver algum. Ou, quando não há palavras, tenta entender a história através somente das imagens. Sua mente se ocupa de reunir toda a informação necessária para montar o quebra-cabeça e dar sentido à narrativa. Você tem de usar todos os sentidos quando lê um livro-imagem. As pistas acumuladas têm como recompensa uma grande história. Em um bom livro de imagens, a história e a maneira como ela é contada são muito próximas, como um terno bem passado em que você não consegue distinguir o tecido externo do forro. Neste caso, o leitor só pode apreciar e "sentir" os livros-imagens.

Como você explica o tremendo su­­cesso de público conquistado por Onda? (No Brasil, o livro foi reimpresso e, contando a venda para o Programa Nacional Biblioteca da Escola, vendeu mais de 55 mil exemplares.)

É mesmo um tremendo sucesso? Obrigada. Não sei se consigo elaborar uma teoria, mas posso contar uma história para você. Fui convidada pela minha editora [Cosac Naify] para ir ao Brasil numa feira literária, no ano passado. A editora me colocou em um hotel na praia de Copacabana e, na manhã seguinte, quando olhei para o mar, acho que encontrei algumas razões para o livro Onda ter sido bem recebido pelos brasileiros. A imensa e linda onda do meu livro foi criada pela minha imaginação, mas ela era real em Copacabana! Depois, a minha editora contou uma história sobre a filha de um amigo, que tinha medo das ondas. Agora, ela disse que a menina ama visitar a praia e brincar no mar graças ao meu livro!

Quando Sombra e Onda são publicados em outras línguas, você faz questão de escrever à mão os títulos dos livros. Por quê?

Eu uso minha caligrafia porque quero expressar o movimento das ondas no título do livro. Onda foi traduzido para muitas línguas diferentes e acabou sendo interessante combinar minhas letras com cada idioma. Eu pensava que, se o título fosse escrito à mão, as letras também se tornariam uma imagem – uma onda – e isso fez sentido para um livro sem palavras.

Serviço:

Sombra, de Suzy Lee. Cosac Naify, 40 págs., R$ 42.

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