Insetos como alegorias do amor

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Quem vê o cartaz de uma peça que tenha bonecos já imagina que se trate de um espetáculo infantil e, em decorrência, de algo pouco profundo. Pois não é o caso de O Malefício da Mariposa, encenado pela Ave Lola Espaço de Criação em seu espaço próprio.

A obra adapta o primeiro texto escrito por Federico García Lorca, espanhol assassinado logo no início do regime franquista. Usando o mundo dos insetos como alegoria, ele conta uma história de amor que revela muito da sociedade em que viveu.

Apesar de sua mãe ter uma bela garota em vista para casá-lo, o protagonista Curianito se apaixona por uma mariposa que carrega uma maldição: quem com ela se envolver morrerá. Angustiado, ele acaba por optar pelo amor.

"Talvez seja uma crítica aos casamentos arranjados, mas o que importa é que a peça fala com paixão sobre as paixões", disse à Gazeta do Povo a diretora Ana Rosa Tezza.

O interesse do grupo pela montagem, sugerida pela diretora de arte Cristine Conde, passou também pela possibilidade de usar bonecos, algo ainda inexplorado pelo coletivo, que aprovou o efeito de distanciamento proporcionado. E eles fizeram isso mesclando diversas técnicas, a ponto de criar um visual único.

Se o figurino resultante chama a atenção, a trilha sonora também é um destaque, com criação de Jean Jacques Lemêtre, do francês Théatre du Soleil, que presenteou o grupo com melodias tocadas com instrumentos desenvolvidos por ele mesmo.

Nojo animal

A recepção do texto em 1918, quando estreou na Espanha, não foi nada boa. "Na época as pessoas não o entenderam nem aceitaram ser comparados a animais." O autor retruca num diálogo da própria peça: "Por que vocês humanos têm nojo dos animais ínfimos da natureza, que às vezes são bem mais puros do que vocês?"

Em outro trecho, uma senhora reclama que "os poetas são sempre um problema", ao que outra retruca: "Não se preocupe, os queimará o esquecimento". A peça está em cartaz de sexta a domingo, até 3 de junho.