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A partir da esquerda: Daniel Amaral, o “cara das cordas”; Giovana Luersen, vocalista e autora da letra; a flautista Fernanda Fausto; o baixista Davi Dornellas e o violonista Asaph Eleutério.  Também fazem parte do grupo Karla Dibia (clarinete) e Gabrelly Nichele (percussão) | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
A partir da esquerda: Daniel Amaral, o “cara das cordas”; Giovana Luersen, vocalista e autora da letra; a flautista Fernanda Fausto; o baixista Davi Dornellas e o violonista Asaph Eleutério. Também fazem parte do grupo Karla Dibia (clarinete) e Gabrelly Nichele (percussão)| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

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A música "CWBTI" está disponível no Soundcloud da banda Alimentadores da Região, no endereço soundcloud.com/alimentadoresdaregiao

De lá pra cá

Rock progressivo, MPB e indie: no Brasil e no mundo, outras músicas já trataram da imigração. Confira:

• "Beneath, Between and Behind" – Rush (1975)

Música sobre o crescimento populacional dos Estados Unidos, refere-se à imigração, guerras e ao "sonho americano".

• "America" – Neil Diamond (1980)

Um tributo à imigração aos Estados Unidos. Neil Diamond cresceu no bairro do Brooklyn, em Nova York, onde muitos europeus se estabeleceram.

• "Imigrante" – Roberto Leal (1988)

"Pra longe vai o imigrante/ Pra outra terra distante/ Outro caminho a seguir", canta o português radicado no Brasil.

• "Sonho Imigrante" – Milton Nascimento (1991)

Composição de Milton, Fernando Brant e Chico Alencar, retrata tanto a beleza do Brasil quanto a esperança de imigrantes italianos, alemães, espanhóis e portugueses por uma vida melhor.

• "Metamoros Banks" – Bruce Springsteen (2005)

Canção sobre imigrantes mexicanos ilegais que cruzam a fronteira dos EUA todos os dias. Metamoros é uma cidade do México vizinha ao Texas.

• "Icky Thump" – White Stripes (2007)

A música fala das injustiças com imigrantes nos EUA, utilizando gírias adolescentes para descrever o preconceito. Está presente no álbum homônimo.

• "Mein Land" – Rammstein (2011)

Em alemão "Minha Terra", a música é uma paródia sobre a xenofobia europeia, que ganhou força com episódios violentos a partir de 2011.

• "The Blanket of the Night" – Elbow (2014)

A última faixa de The Take Off and Landing of Everyting, disco mais recente da banda inglesa, é uma balada sobre "refugiados saindo de uma situação complicada", conforme disse o vocalista Guy Garvey à revista Mojo.

"Cada viagem de Inter 2 dá um Ulysses", assegura o músico Daniel Amaral. Não que James Joyce seja facilmente reproduzível. Mas o fato é que, todos os dias, várias histórias acontecem silenciosamente em Curitiba. Nos ônibus, nas praças, na Rua XV. Uma delas começa a finalmente a chegar ao que se poderia chamar de coração afetivo da cidade, espaço no qual se encontra aquilo que tem importância – ou é discutido entre cafezinhos na Boca Maldita.

Os cerca de 2 mil haitianos que vivem e trabalham em Curitiba ainda não têm um clube próprio. Tampouco emprestam seus nomes afrancesados a alguma rua. Mas os creoles, de certa forma, podem comemorar porque não são mais (tão) invisíveis: sua recente história por aqui é motivo de inspiração para um grupo de sete jovens músicos da Faculdade de Artes do Paraná (Fap), integrantes da banda Alimentadores da Região.

A letra da canção "CWBTI", disponível para audição na internet (veja serviço abaixo), é de Giovana Luersen, outra usuária dos alimentadores, ligeirões e convencionais amarelinhos. "Moro no Centro. Percebi que havia haitianos em todas as partes, em todos os horários. Fiquei interessada no assunto e vi que ninguém havia se ligado nesse momento histórico importante," diz Giovana, voz e violão do grupo Alimentadores da Região, formado em 2012 no pátio da faculdade.

A música traça um rápido panorama do cotidiano dos haitianos por essa cidade que um dia já foi refúgio de poloneses, italianos e alemães. O Haiti não é aqui, mas o Água Verde, durante a construção da nova Arena da Baixada, se tornou um pedaço dele. A canção lembra-se disso. Também dos pensionatos onde vivem alguns haitianos. E, por fim, do Butiatuvinha, maior reduto dos caribenhos por essas bandas frias.

Talvez o grupo tenha até aplicado conceitos dos estudos culturais ou de sociologia da música, disciplinas que ainda estudam na Fap, para talhar a canção. Mas o fato de a composição ser dividida em duas partes quase antagônicas entre si – começo reggae, desfecho punk – vem da observação em campo. "Apesar de tudo, da nossa aceitação, sempre vejo pessoas falando mal de haitianos. São os ‘curitibocas’ em ação", cutuca Giovana, curitibana-leite quente assim como quatro dos outros músicos.

"Despolaquização"

O mais recente fenômeno de imigração ainda vai dar o que falar, mas para o grupo ele já suscita pistas sobre como os fatores culturais da cidade podem se reorganizar. Seria, como afirma o grupo numa troça étnica, a "despolaquização" de Curitiba. "Apesar da loucura deste mundo, percebemos de fato que os haitianos estão entre nós, produzindo e trabalhando. Através da música, queremos que as pessoas percebam isso também", diz Asaph Eleutério, voz e violão da banda.

Se em outros cantos a imigração atual é motivo de complexas e até violentas reações sociais – turcos na Alemanha, africanos na França, por exemplo – em Curitiba o problema parecia ser a indiferença. "As novas diásporas continuam", diz a flautista Fernanda Fausto. "Se pensarmos de forma ampla, é a construção de uma nova identidade, seja aqui ou na França." Allez.

Cenário da canção é o maior reduto dos imigrantes

Eles estão mesmo nas ruas, embora sempre a trabalho, nunca pela esmola. Sobreviventes do terremoto que devastou o Haiti em 2010, rapidamente enxergaram o Brasil como nova Canaã. Mesmo que tivessem curso superior, foram, como mostram alguns trechos do documentário Operários da Bola, mão-de-obra fundamental para a construção dos estádios brasileiros para a Copa de 2014. Em Curitiba, a história foi mais ou menos a mesma.

De acordo com informações atualizadas da Pastoral do Migrante, são cerca de 5 mil os haitianos no Paraná. Dois mil deles estão em Curitiba e trabalham, em sua maioria, na construção civil.

Durante o auge das obras na Arena da Baixada, 1,5 mil homens batiam ponto no Água Verde – quatrocentos deles eram haitianos, cerca de 30% do total. Os caribenhos também venderam seus muques durante a construção do Shopping Pátio Batel, inaugurado em setembro de 2013.

Em Curitiba, a maior concentração de imigrantes está na vila Três Pinheiros, no Butiatuvinha, região de Santa Felicidade. É justamente esse um dos cenários da música "CWBTI".

Ainda segundo a Pastoral, o movimento imigratório agora é interno, com haitianos saindo de São Paulo e do Rio de Janeiro em direção a Curitiba, sempre em busca de trabalho. Ao menos do frio eles já vêm avisados.

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