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Há muitos anos, o escritor João Gilberto Noll nutre um amor profundo por um mesmo homem. Uma criatura de meia-idade, marginalizada, que atravessa longas jornadas solitárias em um estado de alienação que beira à loucura. Este homem embrutecido – algumas (poucas) vezes travestido de mulher – é o próprio alter-ego do autor, que, ao longo de 14 livros, enfrenta situações que o transformam no herói que desejaria ser um dia.

Em A Máquina de Ser (Ed. Nova Fronteira, 160 págs, R$22), novo livro do escritor gaúcho vencedor de cinco prêmios Jabuti, este mesmo homem angustiado encarna diversos personagens ao longo de 24 contos. Embora menos usual na escrita de Noll, o gênero lhe permite brincar com questões formais sem perder sua veia de exímio romancista – ele cria uma tessitura subterrânea que liga intimamente cada conto aos outros.

Noll é um autor às voltas com a linguagem. Sua narrativa, sempre em primeira pessoa, disseca instantes de vida de pessoas comuns (por isso, a preferência pelo tempo presente). A Máquina de Ser reflete o interesse deste ex-coroinha e cantor de igreja, hoje ateu, em investigar questões metafísicas. "A tendência é, ao matar Deus, se transferir para um universo de indagação filosófica, como o ser, o estar, o parecer, o se dissolver", explica, em entrevista ao Caderno G, à página 3.

Mesmo com um texto em prosa intenso (quase poesia), suas imagens, sempre relacionadas a sentimentos do homem contemporâneo, serviram de matéria para filmes como Nunca Fomos tão Felizes (1984), de Murilo Salles, adaptação do conto "Alguma Coisa Urgentemente", de seu primeiro livro, O Cego e Dançarina, de 1980, e Harmada (2005), de Maurice Capovilla, retirado do livro homônimo. Em fase de produção, estão dois outros longa-metragens baseados nas obra de Noll: O Quieto Animal da Esquina, de Marta Biavaschi, e Hotel Atlântico, de Suzana Amaral.

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