O escritor Philip K. Dick já se questionou: “Androides sonham com ovelhas elétricas?” Ao que parece, os androides atuais sonham com Rembrandts e concursos de literatura.
Na semana passada, pela primeira vez em quatro séculos, um novo quadro do pintor holandês Rembrandt (1606 - 1669) foi revelado ao público. Produzido, todavia, em pleno 2016. A tela, batizada de The Next Rembrandt (o novo Rembrandt), foi criada por um programa da Microsoft.
Usando dados de 346 quadros do holandês, um algoritmo de reconhecimento facial identificou um padrão no traço do artista e o reproduziu em um retrato de um homem caucasiano com barba, entre os 30 e 40 anos, roupas escuras com gola branca, chapéu e olhar para a direita.
“Usamos tecnologia e dados, assim como Rembrandt usava tintas e pinceis, para criar algo novo”, comemorou Ron Augustus, diretor da Microsoft.
No mês passado, um outro programa, desta vez japonês, quebrou um tabu no meio eletrônico: pela primeira vez conseguiu emplacar um conto (veja quadro ao lado) em um popular concurso de literatura do Japão.
A obra com o sugestivo nome “O dia em que um computador escreveu um conto” usou a mesma lógica.
Programadores selecionaram uma série de palavras e sentenças e definiram o tema do conto, além de inserir no computador detalhes sobre os protagonistas. Em seguida, a inteligência artificial organizou essas informações para “escrever” o texto final, de forma autônoma.
Gênese criativa
Isso é uma grande evolução em relação a programas como o Deep Blue, que ficaram famosos ao derrotar campeões do xadrez, mas não passam de máquinas de calcular gigantes.
Literatura e pintura pareciam imunes às investidas da precisão matemática de um computador ou robô por conta de sua gênese cultural, psicológica e subjetiva. Estaríamos entrando numa era da inteligência artificial criativa?
O ciberartista Jack Holmer, professor de Arte e Tecnologia e pesquisador de semiótica robótica, afirma que esta interação não é nova. Nos anos 1990, o artista Harold Cohen já tinha criado uma máquina que pintava quadros com o mais humano dos processos: tentativa e erro.
A diferença para o momento atual é que o avanço das pesquisas e da tecnologia estaria levando a pesquisa para outro patamar.
“A diferença agora é que estamos próximos de descobrir o que faz os humanos criativos e programar isso em uma máquina”, diz.
Pesquisador de Inteligência Artificial atualmente em estágio doutoral na Telecom ParisTech (Paris), Heitor Murilo Gomes diz que é preciso ser cauteloso ao associar “criatividade e inteligência artificial numa mesma frase”. Para ele, ainda estamos longe da máquina criativa.
“Ainda não há como definir de forma precisa o que é criatividade. Seria criatividade um estado de espírito, uma habilidade, um processo? ”
Para ele, estes experimentos mostram que é possível ensinar máquinas a “digerirem conhecimento existente (em diversos formatos, isso pode ser extremamente difícil!) e a criar novas instâncias do mesmo tipo a que elas foram ensinadas”, explica.
Ele destaca, porém, que estes experimentos podem ajudar a entender como funciona a criatividade no ser humano, mesmo que de forma indireta, “pois quanto mais pensamos em como imitar, mais corremos o “risco” de aprender como é.”
Para ele, para definir se as Inteligências Artificiais estão produzindo arte seria preciso responder outra pergunta controversa: “O que é arte? Dependendo da definição, elas já estão fazendo”, diz.
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