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O rei dos filmes de baixo orçamento, Roger Corman, estará em Curitiba até o próximo sábado | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
O rei dos filmes de baixo orçamento, Roger Corman, estará em Curitiba até o próximo sábado| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O lendário diretor norte-americano Roger Corman está na cidade. Fica até sábado, como convidado especial do festival de cinema de horror Madrugada Sangrenta. Ontem à noite, sempre ao lado da esposa e sócia Julie, se divertiu ao lado dos fãs com a exibição pública de seu A Pequena Loja dos Horrores. Realizado em apenas dois dias de 1960, o filme custou cerca de US$ 20 mil, lançou Jack Nicholson e influenciou toda a indústria do cinema. Ontem pela manhã, após comer ovos mexidos com vina, Corman falou com a imprensa local sobre sua influência na história do cinema, e revelou sua fórmula para produções de baixo orçamento. Você começou no cinema quebrando uma regra de ouro da indústria: "nunca coloque dinheiro do próprio bolso". Se arrepende ou foi o preço da liberdade?

Sem arrependimentos. Foi exatamente o preço da liberdade. Ao financiarmos nossas produções não devemos explicações para ninguém. A parte ruim é que nunca temos tanta grana, então temos que fazer filmes de médio e baixo orçamento para fazer frente a produções do Christopher Nolan. O que o senhor sabe sobre Curitiba? A cidade tem muitos tipos bizarros, nosso personagem mais famoso é chamado de vampiro. O senhor conhece este lado escuro da capital?

Eu ainda que não conheço este lado. O que eu sei é que Curitiba é uma cidade muito moderna, do século 21. Sei que é uma cidade que não tem a herança de muitos séculos das grandes metrópoles, o que me parece uma coisa boa. Você não fica preso a regras antiquadas.

Como o senhor acha que seu trabalho influenciou as gerações seguintes de diretores e produtores?

Eu não estou certo que a minha influência é significativa. O que pode ter tido algum papel é o fato de eu trabalhar de maneira independente em projetos de baixo e médio orçamento, o que me obrigou a criar um sistema particular de planejamento de pré-produção. Nós planejamos todo o filme antes, e adaptamos o roteiro para caber dentro do orçamento.

O senhor é famoso por saber descobrir novos talentos. Como os identifica?

Do meu ponto de vista, eu busco essencialmente três coisas. A primeira é inteligência. Eu nunca conheci um diretor ou produtor de sucesso que não fosse inteligente. A segunda é a habilidade e a vontade de trabalhar duro. Há uma ideia generalizada de que o cinema é um trabalho glamouroso, e até certo ponto é. Mas também é muito trabalho duro. A terceira é mais intangível: criatividade. Além disso é preciso ter uma cadeira.

Como assim?

Durante a filmagem de Rock ‘n’ Roll High School (filme de 1979 produzido por Corman, com a participação da banda Ramones), o à época jovem diretor Alan Arkush anotava tudo o que eu dizia, e então eu lhe falei: "O mais importante para um diretor é arrumar uma cadeira, escrever seu nome nela e não deixar ninguém sentar. Nos primeiros dias, ele não parava entre cenas e eu dizia "você precisa descansar enquanto não está gravando". Ele dava tudo de si o tempo inteiro, mas nunca sentava na cadeira. No último dia de filmagem ele foi parar no hospital por exaustão, e Joe Dante veio filmar as últimas cenas em seu lugar. Portanto é um bom conselho: tenha uma cadeira e descanse entre as cenas.

Com a tecnologia atual é mais fácil e barato fazer filmes independentes. Como o senhor vê este momento da indústria, e o que o jovem Roger Corman estaria fazendo hoje?

O jovem Roger Corman estaria usando câmera digital e todos os equipamentos que o permitissem ir para rua filmar quase sem custo. Hoje em dia muita gente filma com equipes pequenas, em que ninguém recebe salário e sim algum percentual final no projeto, mas ou menos como eu fazia no começo. É uma maneira maravilhosa de trabalhar. É certo que muitos destes filmes não são muito bons, mas alguns certamente são. E outros, ocasionalmente, podem ser brilhantes. E estão sendo feitos pelos cineastas, roteiristas e produtores que vão dizer para onde vai a indústria do cinema.

Muita gente acha que as séries de TV estão um passo à frente do cinema em termos de roteiros e direção, enquanto o cinema virou um divertimento quase infantil. O senhor concorda com isso?

Eu acho que que o público mais jovem está gravitando ao redor das séries de TV e algumas delas como "Breaking Bad" e "House of Cards" são realmente muito boas. O cinema tem trabalhado muito com super-heróis e efeitos especiais e, com algumas exceções, se distanciado da boa dramaturgia que tem migrado para a televisão. Nesse mesmo tema, o que o senhor que viu a primeira onda de cinema 3D nos anos 1950 acha desta nova moda de 3D?

Eu dou credito a James Cameron. Avatar é um filme brilhante que misturou efeitos especiais a uma boa história e colocou o 3D de volta à tona. Eu não vejo problema desde que o 3D seja mais um recurso e não o principal de um filme. Existe ainda uma história que o senhor queria contar e não contou?

Eu queria fazer um filme sobre o general Robert E. Lee (líder da campanha derrotada dos sulistas na guerra Civil Americana 1861 e 1865). E também o "Crazy Horse", o líder indígena. Eles foram grandes guerreiros que tiveram grandes derrotas. Alguma coisa me conecta a estes personagens que lutaram enormes batalhas e perderam. O senhor disse certa vez que "nunca fez o filme que queria". Ainda pensa assim?

Tudo começa com uma ideia e uma expectativa que os filmes nunca atingem. O filme sempre é diferente, às vezes para melhor. Mas em geral o filme na sua mente é melhor do que aquele que vai para a tela. Há uma "fórmula Corman" para produzir filmes com baixo orçamento?

No meu primeiro filme eu tinha doze mil dólares em espécie. Tive que projetar um filme que coubesse dentro daquele orçamento, com as duas semanas que tínhamos para filmar e que, mesmo assim, pudesse ter algum suspense e algum valor artístico. São muitos obstáculos que nos fazem desenvolver a técnica para superá-los.

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