Sem dinheiro, editores ousam pela criatividade
A internet deu às revistas acadêmicas um toque revolucionário, permitindo que sejam publicadas com pouquíssimos gastos. Às vezes, boa vontade e criatividade bastam para que os professores façam proezas porque, basicamente, quase não há dinheiro.
Como funcionam e qual é o papel dos periódicos
"Na minha opinião, uma revista acadêmica deve servir como meio para a produção de conhecimento científico de ponta, perdendo apenas para os livros em importância e circulação. Os departamentos e cursos de graduação e pós-graduação que mantêm periódicos são responsáveis pela possibilidade de divulgação do conhecimento, no nível de excelência dos pares leitores e, em algum grau, também acessível para alunos de graduação, pós-graduação e mesmo para o público não-acadêmico", diz Rodrigo Gonçalves, da UFPR.
Os professores ouvidos pela reportagem deram algumas dicas de publicações acadêmicas que costumam ler, listadas no quadro à esquerda. As revistas têm um funcionamento parecido: por meio das páginas na internet, recebem textos de colaboradores, contam com pareceristas voluntários para avaliar a qualidade dos trabalhos e selecionam o que deve ser publicado (com ou sem alterações, submetidas sempre ao autor do texto).
"Não acreditamos que o conhecimento acadêmico deva ser reservado aos acadêmicos, como se fossemos uma seita de iniciados que, uma vez legitimados pela academia, passam então a doutrinar os não-acadêmicos... Temos como objetivo atingir também pessoas de outras áreas, dentro e fora da ciência formal. Queremos divulgar nossos trabalhos, nosso pensamento, nossas formas de conhecer a todos os que por elas se interessarem", diz Clarissa Jordão, da UFPR.
Uma dica útil é consultar os sites na internet que funcionam como indexadores, classificando as publicações existentes em áreas diversas e no mundo todo. Com um acervo angustiante (de tão extenso), um dos mais lembrados é o da Capes.
As universidades costumam ter páginas que relacionam suas publicações. As estaduais de Londrina, Maringá e Ponta Grossa oferecem esse serviço. Os sites são simples, mas eficientes e trazem todas as informações necessárias.
On-line
Confira algumas dicas dos professores ouvidos pela reportagem
A revistas
Os entrevistados respondem pelos títulos Revista Internacional de Folkcomunicação (www.revistas.uepg.br), Revista Letras (www.letras.ufpr.br/revista_letras/index.html) e Revista X (http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/revistax).
Comunicação
Sérgio Luiz Gadini sugere um giro pela Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação (www.bocc.ubi.pt) e pelo Latindex, um portal latino de periódicos (http://www.latindex.com).
Paranaenses etc.
Clarissa Jordão indica revistas acadêmicas do Paraná, como a Línguas & Letras, da Unioeste, e a Acta Scientiarum, da UEM.
Referência
A página da Capes (www.periodicos.capes.gov.br) é uma das melhores e mais completas referências do setor. Para Rodrigo Gonçalves, ela reúne um conteúdo fundamental para os pesquisadores brasileiros.
A internet está matando jornais e revistas de papel com o ímpeto de um psicopata num filme cheio de colegiais.
Fala-se muito do lado sangrento da mídia on-line, mas poucos sabem que a internet que mutila a imprensa é a mesma que dá vida e alimenta uma série de publicações que teriam problemas para existir de outro modo: as revistas acadêmicas.
A possibilidade de se criar publicações on-line sem a obrigatoriedade do papel deu poder aos departamentos das universidades. Agora, é possível bancar uma revista de divulgação científica gastando quase nada em alguns casos. Além de facilitar o processo de produção, poupar papel e ampliar as possibilidades pesquisadores de países diferentes estão a um e-mail de distância , a internet conseguiu também aumentar o número de leitores porque simplificou o acesso aos textos.
Sérgio Luiz Gadini, professor de Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), edita a Revista Internacional de Folkcomunicação, ou Revista Folkcom para simplificar, e fala de um fenômeno que tem algo em torno de uma década e meia. "Com o crescimento da pós-graduação no país, criou-se também uma espécie de corrida produtivista que, hoje, praticamente obriga qualquer professor que atua em pós-graduação a ter que publicar, o que gera um círculo... É preciso dispor de publicações para apresentar resultados de pesquisa, o que também fortalece as revistas", diz.
Os pesquisadores querem pontos para o currículo e procuram emplacar textos em títulos bem avaliados pela Capes, por meio de um índice chamado Qualis que valoriza, por exemplo, revistas com identidade (o ISSN) e página na internet com conteúdo integral e gratuito.
"A questão é que, para as universidades brasileiras hoje, calcadas no tripé ensino-pesquisa-extensão, uma boa política de apoio aos periódicos científicos é uma ponte fundamental entre ensino de pós-graduação e pesquisa de ponta, o que, através da acessibilidade da internet e das exigências de conteúdo aberto e gratuito, também acaba servindo como extensão à comunidade", diz o professor Rodrigo Gonçalves, editor da Revista Letras, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O afã de publicar garante material para qualquer revista séria, porém, o trabalho dos editores ganha mais importância.
Menos
"A agilidade na postagem não assegura qualidade de produção científica", diz Gadini. "Daí porque é também uma grande responsabilidade editorial coordenar um espaço (periódico, que visa contribuir na formação acadêmica, científica e profissional de uma determinada área) e assegurar seriedade, transparência e garantia de que o leitor vai encontrar, ali, um conteúdo confiável etc. E isso, claro, dá muito trabalho, pois não se trata apenas de receber e postar. Há um processo de seleção e edição."
As revistas acadêmicas servem então para disponibilizar resultados de pesquisas, tornando a produção de qualquer departamento acessível a quem se interessar. Existem, claro, áreas do conhecimento que podem ser mais ou menos herméticas para não-iniciados. Um artigo sobre a intensidade de luz de diferentes aparelhos fotopolimerizadores de resina composta, publicado numa revista de Dentística Restauradora, deve ter pouco apelo para alguém que não seja da área odontológica.
No entanto, entre as Ciências Sociais e Humanas, bem como em Letras e Artes, as possibilidades de falar a um público amplo são grandes. Um bom exemplo é a Revista X, também da UFPR, editada pela professora Clarissa Jordão, do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas.
O número mais recente traz um texto sobre estudos culturais em que o autor usa como base Avatar, o filme com a maior cifra de bilheteria na história do cinema (poucos lembram, mas, em número de espectadores, E o Vento Levou, de 1939, continua imbatível).
Mais
"Para mim, não há dúvida de que a internet amplia o alcance que as revistas em geral e especialmente as acadêmicas podem ter. Claro que sabemos que estar disponível não significa estar ao alcance de todos, mas, certamente, estar publicada on-line e gratuitamente coloca a Revista X ao alcance de uma grande parcela da população, dentro e fora das universidades, uma parcela certamente maior do que se nossa revista fosse publicada em papel somente", diz Clarissa.
Por fim, as mudanças causadas pela internet teriam algum poder de alterar o modo como são pensadas as revistas acadêmicas?
"Pode-se dizer que os editores têm mais opção, seja de comparação, critério editorial ou mesmo elementos para repensar, frequentemente, as próprias orientações editoriais das publicações, pois pode-se ter um retrato, mesmo que parcial, do que se faz, produz e publica nas diferentes regiões do mundo", diz Gadini.
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