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Tecnologia

Internet ergue onda de revistas

Universidades usam os poderes da rede e a ajuda de voluntários para criar e sustentar publicações acadêmicas sem gastar quase nada

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A internet está matando jornais e revistas de papel com o ímpeto de um psicopata num filme cheio de colegiais.

Fala-se muito do lado sangrento da mídia on-line, mas poucos sabem que a internet que mutila a imprensa é a mesma que dá vida e alimenta uma série de publicações que teriam problemas para existir de outro modo: as revistas acadêmicas.

A possibilidade de se criar publicações on-line sem a obrigatoriedade do papel deu poder aos departamentos das universidades. Agora, é possível bancar uma revista de divulgação científica gastando quase nada em alguns casos. Além de facilitar o processo de produção, poupar papel e ampliar as possibilidades – pesquisadores de países diferentes estão a um e-mail de distância –, a internet conseguiu também aumentar o número de leitores porque simplificou o acesso aos textos.

Sérgio Luiz Gadini, professor de Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), edita a Revista Internacional de Folkcomunicação, ou Revista Folkcom para simplificar, e fala de um fenômeno que tem algo em torno de uma década e meia. "Com o crescimento da pós-graduação no país, criou-se também uma espécie de ‘corrida’ produtivista que, hoje, praticamente obriga qualquer professor que atua em pós-graduação a ‘ter que publicar’, o que gera um círculo... É preciso dispor de publicações para apresentar resultados de pesquisa, o que também fortalece as revistas", diz.

Os pesquisadores querem pontos para o currículo e procuram emplacar textos em títulos bem avaliados pela Capes, por meio de um índice chamado Qualis que valoriza, por exemplo, revistas com identidade (o ISSN) e página na internet com conteúdo integral e gratuito.

"A questão é que, para as universidades brasileiras hoje, calcadas no tripé ensino-pesquisa-extensão, uma boa política de apoio aos periódicos científicos é uma ponte fundamental entre ensino de pós-graduação e pesquisa de ponta, o que, através da acessibilidade da internet e das exigências de conteúdo aberto e gratuito, também acaba servindo como extensão à comunidade", diz o professor Rodrigo Gonçalves, editor da Revista Letras, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O afã de publicar garante material para qualquer revista séria, porém, o trabalho dos editores ganha mais importância.

Menos

"A agilidade na postagem não assegura qualidade de produção científica", diz Gadini. "Daí porque é também uma grande responsabilidade editorial coordenar um espaço (periódico, que visa contribuir na formação acadêmica, científica e profissional de uma determinada área) e assegurar seriedade, transparência e garantia de que o leitor vai encontrar, ali, um conteúdo confiável etc. E isso, claro, dá muito trabalho, pois não se trata apenas de receber e postar. Há um processo de seleção e edição."

As revistas acadêmicas servem então para disponibilizar resultados de pesquisas, tornando a produção de qualquer departamento acessível a quem se interessar. Existem, claro, áreas do conhecimento que podem ser mais ou menos herméticas para não-iniciados. Um artigo sobre a intensidade de luz de diferentes aparelhos fotopolimerizadores de resina composta, publicado numa revista de Dentística Restauradora, deve ter pouco apelo para alguém que não seja da área odontológica.

No entanto, entre as Ciências Sociais e Humanas, bem como em Letras e Artes, as possibilidades de falar a um público amplo são grandes. Um bom exemplo é a Revista X, também da UFPR, editada pela professora Clarissa Jordão, do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas.

O número mais recente traz um texto sobre estudos culturais em que o autor usa como base Avatar, o filme com a maior cifra de bilheteria na história do cinema (poucos lembram, mas, em número de espectadores, E o Vento Levou, de 1939, continua imbatível).

Mais

"Para mim, não há dúvida de que a internet amplia o alcance que as revistas em geral – e especialmente as acadêmicas – podem ter. Claro que sabemos que estar disponível não significa estar ao alcance de todos, mas, certamente, estar publicada on-line e gratuitamente coloca a Revista X ao alcance de uma grande parcela da população, dentro e fora das universidades, uma parcela certamente maior do que se nossa revista fosse publicada em papel somente", diz Clarissa.

Por fim, as mudanças causadas pela internet teriam algum poder de alterar o modo como são pensadas as revistas acadêmicas?

"Pode-se dizer que os editores têm mais opção, seja de comparação, critério editorial ou mesmo elementos para repensar, frequentemente, as próprias orientações editoriais das publicações, pois pode-se ter um retrato, mesmo que parcial, do que se faz, produz e publica nas diferentes regiões do mundo", diz Gadini.

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