Clara Crocodilo
Saiba mais sobre a obra, que, dotada de "arquitetura musical", foi marco cult no Brasil da década de 1980
Álbum
Nome do primeiro álbum lançado por Arrigo Barnabé e pela banda Sabor de Veneno, em 1980, também foi o marco inicial do movimento Vanguarda Paulista.
Experimental, o trabalho é recheado de simbolismos e antíteses. Clara e Crocodilo significariam, respectivamente, "luz" e "escuro".
Musicalmente, Clara Crocodilo é impregnado de dodecafonismos e atonalidades, marcas registradas do piano de Arrigo Barnabé. Por esse e outros motivos, virou, à época, símbolo cult de jovens alternativos.
As oito faixas do disco narram com realismo a vida em grandes metrópoles brasileiras. As letras misturam poesia com humor e contracultura marginal com retratos tortuosos da classe média.
Arrigo Barnabé foi chamado pela crítica de "porta-voz da terceira revolução da MPB", que já tinha passado pela bossa nova e pelo tropicalismo.
Clara Crocodilo foi reeditado em CD em 1999, com outros músicos e cantores, a partir de gravações ao vivo efetuadas em fevereiro daquele ano no Sesc Ipiranga, em São Paulo.
No final dos anos 1980, o paulistano Sebastião Interlandi Júnior dividia os sopros na flauta com os rabiscos em pranchetas de arquitetura. O aprendiz de músico ouviu uma versão sinfônica da suíte "Clara Crocodilo", de Arrigo Barnabé. Bastou para que, certo dia, dissesse a si mesmo: "preciso tocar isso algum dia".
O dia é hoje. Às 21 horas, no teatro Guaíra, a Orquestra à Base de Sopro grupo musical da Fundação Cultural de Curitiba grava seu primeiro DVD, acompanhada justamente do compositor paranaense e ex-futuro arquiteto Arrigo Barnabé.
No repertório, as peças "Metamorfose" e "Clara Crocodilo". A primeira foi desenvolvida em 2006, especialmente para o grupo curitibano, quando do verdadeiro encontro dos músicos. A outra, uma releitura da maior composição de Barnabé e da banda Sabor de Veneno, é um dos marcos criativos da música brasileira. Ou o "hit pop rock erudito", nas palavras de Interlandi, cofundador da OSP.
"É uma obra de referência nacional e mundial. Quem viu, viu, e quem não viu, deve ver", justifica o flautista. A obra foi ponto importante na chamada Vanguarda Paulistana, movimento musical e cultural dos anos 1980 (leia mais no quadro ao lado).
Os ensaios dos 17 músicos da orquestra que se dividem em flautas, clarinetes, clarone, sax alto, sax tenor, trompetes, trombones, além da base rítmica propiciada por piano, guitarra, baixo, bateria e percussão com o compositor acontecem desde janeiro. O tempo é necessário devido à complexidade da obra, que deve ser reinterpretada de maneira fiel.
"Está muito legal. A banda toca superbem e as coisas estão bem certinhas. Eles fizeram uma ampliação dos arranjos originais", explica Barnabé, de 57 anos. "Eles" são Sérgio Albach, regente e diretor artístico da orquestra, o flautista Gabriel Schwartz e o guitarrista Luis Otávio Almeida.
Já "Metamorfose" é uma obra em constante construção. Começou de forma livre e sem letra. Mas, de repente, ideias sobre "a obsessão pela transformação corporal" foram ganhando forma e voz.
"Parece que a mulher quer sempre se transformar, está sempre atrás de um botox. Esse negócio vira uma paranoia. É uma obsessão mesmo e a peça trata disso", explica o londrinense. "Mas é um work in progress. O texto está sempre mudando", avisa.
As semelhanças entre as obras são várias. O que mais as aproxima, segundo o compositor, é a "agressividade musical". "Existe uma coisa cênica, uma agressividade nas obras. Uma coisa meio rock mesmo", sintetiza Barnabé. O músico que se considera mais cult do que pop tocou suas obras para um Theatro Municipal de São Paulo lotado durante a última Virada Cultural, em maio. "Parecia que eu era um ídolo", brinca.
O projeto do DVD que será gravado hoje obteve recursos via Lei Municipal de Incentivo à Cultura na modalidade mecenato subsidiado. O Guaíra terá uma iluminação especial e o DVD sairá em formato blue-ray disco com maior capacidade de informação e com maior definição. "Será uma superprodução", avisa Interlandi.
Serviço
Orquestra à Base de Sopro e Arrigo Barnabé Show de gravação do DVD. Teatro Guaíra (Pça. Santos Andrade, s/nº), (41) 3304-7982. Hoje, às 21 horas. Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).
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