O que parecia ameaça de última hora - considerada por muitos como estratégia da Academia em criar interesse para um Oscar fadado a obviedades - se tornou realidade na noite deste domingo. "Crash - No limite", um belo retrato sobre a intolerância racial americana, ganhou o prêmio de melhor filme da 78.ª cerimônia do Oscar desbancando "O segredo de Brokeback Mountain", de Ang Lee. O longa sobre a história de amor entre dois caubóis gays liderava a corrida facilmente. E não é que o violento longa-metragem dirigido por Paul Haggis deu uma virada de última hora!!
Na semana passada especialistas e até membros da Academia já cantavam essa bola. "Crash" poderia ser uma ameaça ao drama de Ang Lee, que recebeu oito indicações e acabou levando três estatuetas (melhor direção, roteiro adaptado e trilha sonora como esperado). "Crash" também ganhou três prêmios: melhor roteiro original e montagem, além de melhor filme.
Lee: ''Brokeback não é só uma história de amor gay'
Apesar de ter virado um fenômeno social como objeto de discussão, piadas e paródias, "O segredo de Brokeback Mountain" deve ter assustado os votantes da Academia pela temática gay. Já "Crash" tinha toda a simpatia dos eleitores de Hollywod. O filme se passa em Los Angeles, cidade onde vive a maioria dos acadêmicos, e trata de um assunto delicado que envolve todos os moradores de grandes cidades americanas: brancos, negros, pobres, latinos e imigrantes que não conhecem a realidade um do outro até acontecer uma batida de carro entre essas pessoas de universos tão distintos.
"Crash" recebeu seis indicações, mesmo número de "Boa noite e boa sorte" de George Clooney. Ou seja, a Academia já estava de olho no longa que, apesar de ter Sandra Bullock, Matt Dillon e Don Cheadle, reúne um elenco enorme e quase desconhecido do grande público. O filme também marca a estréia na direção de Paul Haggis. Ele é roteirista de "Menina de ouro", pelo qual disputou o Oscar ano passado, e havia dirigido filmes apenas para TV.
No restante da premiação não houve surpresas. "Munique", de Steve Spielberg, e "Boa noite e boa sorte", não levaram uma estatueta sequer como se esperava. Apesar do belo trabalho de George Clooney como diretor, tinha Ang Lee no caminho. Não dava para ninguém e seu prêmio foi uma forma de a Academia contemplar a ousadia do diretor taiwanês em quebrar o tabu da imagem de homem forte do Oeste americano, imortalizado por aquela propaganda de cigarro...
Nos agradecimetos, Ang Lee deixou seu recado:
- 'Brokeback' não é só uma história de amor gay. É sobre a grandeza do amor em si - disse o diretor.
George Clooney concorria a três Oscar. Além de melhor direção e filme por "Boa noite boa sorte", estava na disputa de melhor ator coadjuvante por "Syriana". Ganhou aí. Seu trabalho como agente da CIA enganado ao descobrir falcatruas da indústria do petróleo junto ao governo americano e empresários foi impecável.
Philip Seymour Hoffman não podia sair de mãos abanando e confirmou seu favoritismo ao levar o prêmio de melhor ator por ''Capote''. Reese Whiterspoon também garantiu seu Oscar ao viver a cantora country June Carter em ''Johnny e June''. Derrotou a veterana Felicity Huffman, elogiadíssima pelo trabalho em ''Transamerica. O filme ainda inédito no Brasil mostra um homem que sofreu operação de troca de sexo e descobre que tem um filho já adulto.
Se ainda houve alguma surpresa, pode-se dizer que foram as premiações de "King Kong" e "Memórias de uma gueixa". As duas superproduções ficaram de fora das categorias principais mas conseguiram o mesmo número de Oscar que "O segredo de Brokeback Mountain" e Crash".
O filme de Peter Jackson ganhou nas categorias melhor efeitos visuais (desbancando o favorito "Guerra dos mundos"), edição de som e mixagem de som. Já "Memórias de uma gueixa" ganhou os Oscar de melhor figurino, direção de arte e fotografia.
Outra surpresa? Por que não "Tsotsi"!! O sul-africano deixou para trás o favoritismo de "Paradise now", longa sobre argumentos discutíveis dos ataques de homens-bomba, e levou o prêmio de melhor longa estrangeiro. O filme ainda inédito no Brasil mostra a história de um marginal de Johannesburgo que vê sua vida mudar depois de encontrar um garoto no banco de trás do carro que roubara.
Mais prêmios óbvios? O Oscar de longa animado para o trabalho em stop motion do inglês "Wallace & Gromit A batalha dos vegetais" e "A marcha dos pingüins", o melhor documentário, inclusive um fenômeno de bilheteria nos EUA. E, claro, Rachel Weisz, a única que foi às lágrimas ao levar o prêmio de melhor atriz coadjuvante por seu trabalho em "O jardineiro fiel", do diretor brasileiro Fernando Meirelles.
Ao agradecer o prêmio ela elogiou o cineasta dizendo que era "uma das pessoas mais humanas que ela já conheceu no mundo do cinema. Depois, em entrevista a jornalistas ela confessou ter "perseguido Meirelles para ganhar o papel". Sorte a dela.
Confira a lista completa de vencedores do Oscar 2006:
Filme: Crash - No LimiteDiretor: Ang Lee (Brokeback Mountain)Filme de animação: Wallace & GromitAtriz: Reese Witherspoon (Johhny & June)Ator: Philip Seymour Hoffman (Capote)Ator coadjuvante: George Clooney (Syriana)Atriz coadjuvante: Rachel Weisz (O Jardineiro Fiel)Roteiro original: Crash No LimiteRoteiro adaptado: O Segredo de Brokeback MountainFotografia: Memórias de uma GueixaEdição: Crash No LimiteDireção de arte: Memórias de uma GueixaFigurino: Memórias de uma GueixaTrilha sonora original: O Segredo de Brokeback MountainEdição de som: King KongSom: King KongMúsica: "Its Hard Out Here for a Pimp" (Ritmo de um Sonho)Efeitos visuais: King KongMaquiagem: As Crônicas de NárniaFilme estrangeiro: Tsotsi (África do Sul)Documentário (longa): A Marcha dos PingüinsDocumentário (curta): A Note of Triumph: The Golden Age of Norman CorwinCurta-metragem: Six ShooterCurta-metragem (animação): The Moon and the Son: an Imagined Conversation
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