"Invasores" é mais uma versão em longa-metragem do clássico romance de ficção-cientifica "The body snatchers", escrito por Jack Finney em 1955. O livro de Finney ganhou sua primeira versão cinematográfica em 1956, sob a direção de Don Siegel. O filme original, fantástico, é uma verdadeira obra-prima da história do cinema. "Vampiros de almas" - título da versão brasileira - era uma experiência aterrorizante, desesperadora e assustadora. Em 1978, Philip Kaufman resolveu presentear o mundo do cinema com uma refilmagem do clássico de Siegel. O resultado foi um filme diferente do de 56, mas que continha a mesma sensação de claustrofobia, paranóia, conspiração e pavor. Um filme excelente que, para alguns, consegue ser melhor do que o original (há, ainda, uma razoável versão de Abel Ferrara, de 1993). O fim do longa de 78 é, dentro das obras-primas de sci-fi, um dos mais próximos a flertar com o horror. Em "Invasores" apenas o filme é um horror.
A história sobre a (implícita e interna) invasão alienígena sempre teve como um de seus trunfos a progressão do suspense e a expectativa gerada. O espectador, sem saber muito bem o que estava acontecendo, embarcava com os personagens rumo ao desconhecido. Frases como "meu marido não é o meu marido" entraram para a posteridade por, dentre outras razões, colocarem a pulga atrás da orelha da platéia, que se importava com o destino de seus heróis, além de se compadecer diante da situação "a pessoa que eu amo não é mais a mesma" (no caso, um clone alienígena). A partir daí, nervosismo, dúvida e tensão crescentes decorrentes desta afirmação produziam uma urgente e desconfortável sensação de paranóia.
No caso de "The invasion" (no original), a história foi modificada de forma esdrúxula, com péssimos diálogos e cenas. Não há nada da ambigüidade, tensão, desespero, medo e, mais importante, da inteligência dos "Invasion of the body snatchers". Nada, absolutamente nada. Oliver Hirschbiegel (diretor de "A queda! As últimas horas de Hitler", indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro) e o roteirista estreante Dave Kajganich conseguiram prestar um absurdo desserviço à memória do cinema. Ambos poderiam haver enveredado, por exemplo, por um filme de fortes tons políticos (ou de sci-fi, ou de terror), mas tudo o que conseguiram foi produzir um pastiche. Não por acaso, o diretor original foi substituído durante as filmagens e os irmãos Wachowski (de "Matrix") foram chamados para aperfeiçoar o roteiro. Se antes ainda era pior, isso nunca saberemos.
O roteiro abusa dos piores clichês dos piores thrillers do gênero e, alguns diálogos, em vez de proporcionarem tensão, provocam riso. O mais constrangedor é ver Nicole Kidman e Daniel Craig - que não precisam provar mais nada a ninguém em termos de atuação - protagonizando este acinte. Se os personagens vivem, morrem, dormem ou sapateiam, não faz a menor diferença para o público. A visão míope de "Invasores" joga no lixo uma das mais interessantes premissas já escritas e ainda produz um final, no mínimo, cretino. O clima de tensão crescente do livro e dos filmes anteriores levava o espectador em uma vertiginosa viagem de montanha-russa de emoções da qual não parecia haver saída. Aqui tudo é dado de bandeja para o público, "mastigadinho", e a montagem recorre a pequenas elipses primárias e horrorosas, para não dizer comprometedoras.
Em termos de comparação, poderíamos citar que ambos os clássicos "Invasion of the body snatchers" causam o mesmo estranhamento e desconforto que filmes tão diferentes e intensos como "O anjo exterminador" (1962), de Buñuel, e "Preso na escuridão" (1997), de Alejandro Amenábar. Já "Invasores" é o "Vanilla sky" da vez (refilmagem do longa de Amenábar). Em "Invasores" e "Vanilla sky" toda a dramaticidade conseguiu ser deixada de lado. E é exatamente isto que "Invasores" faz com uma obra celebrada há décadas. Quem não viu os filmes anteriores, pode até vir a gostar deste. Assim como quem não viu "Preso na escuridão" pode vir a gostar de "Vanilla sky". Mas quem viu os originais, e virou fã, vai encarar este "The invasion" como uma ofensa.
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