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Gaúcho de Santa Rosa, Plato Divorak, aos 38 anos, é uma figura lendária no underground brasileiro. Não só pela música que faz, mas, também, por conta do estilo que destoa num tempo em que as pessoas, cada vez mais, parecem andar em uniformes (também em termos comportamentais) de tribos urbanas. Em plena era da internet, por exemplo, ele prefere responder uma entrevista à mão, despachando as respostas pelo correio.

Musicalmente falando, a praia dele é a psicodelia experimental, daquele tipo cheio de barulhos – mas não os tecnologicamente reproduzidos – , que disfarçam a origem, que pode ser um elevador e um copo com água, ou uma buzina de automóvel. Parceiros, ele tem uma penca – e Brasil afora: Edu K, Frank Jorge, Sandro Garcia, Júpiter Maçã. O universo "divorakiano", entre conhecedores da música independente brasileira, é tido como "vanguarda surrealista".

Foi na produtiva década de 80 gaúcha que ele deu os primeiros passos, com uma turma de amigos de Novo Hamburgo – região metropolitana de Porto Alegre. Teve as bandas Off – com Edu K, na guitarra –, Os Jaquetas e Valetine Ray-o-Vac. Em 1988, a Père Lachaise, misturando rock nova-iorquino, bossa nova e psicodelismo, marcou época. Tanto quanto a Lovecraft – que misturou tropicalismo, Syd Barret, mod e boogie. Depois veio a dupla Plato e Frank (93) e uma passagem pela Momento 68. "Lá por 96, começaram a aparecer músicas e idéias-solo, todo um leque de instrumentações", narra ele na carta-resposta.

Paralelamente a essa fase, o músico teve o grupo Plato e os Analógicos, até que chegou abril de 2005 e o segundo álbum-solo, Calendário da Imaginação, lançamento da paulistana Baratos Afins. O registro faz juz ao nome, marcando cada faixa pela inventividade aguçada do rapaz. Gravado entre 96 e 2000, o álbum faz um compêndio dos últimos dez anos de produção e é um importante registro das (coerentes) maluquices desse artista autodidata e marginal, pois não pode ser enquadrado em nenhuma gavetinha de estilos, e que se apropria com maestria de objetos e movimentos impensados como instrumentos.

Quem mais ousaria gravar, por exemplo, o som efervescente de uma pastilha de Cebion em um copo d’água, elevadores em movimento, telefone celular, latas jogadas ao chão, ondas de rádios desreguladas, gritaria e duendes de metal? Tudo detalhadamente citado no encarte entre os instrumentos que Plato tocou. "Gravei sempre com aquela sensação de ‘Eu vou lançar isso algum dia. É muito árduo’, diz.

Numa rápida complementação por telefone da entrevista, ele explicou. "Quanto ao Cebion, eu coloco uma pastilha no copo cheio de água e gravo os estouros. Fica bem lisérgico", diz ele, que ouve de tudo um pouco, "de música cubana e jazz dos anos 30, passando por psicodelia desconhecida dos anos 60, até clássicos como (Rolling) Stones, Beatles e Tom Zé". "Nada de eletrônicos, meus efeitos são todos primitivos".

E que ninguém se atreva a chamar de "esdrúxulos" os sons que cria. "São frutos de uma mente aberta e de um coração que teve a sorte de se beneficiar da adolescência diante de todos os mestres da criação e da liberdade artística", rebate Plato, com simplicidade e segurança.

Serviço: www.baratosafins.com.br.

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