O Acústico MTV fez pelo IRA! a mesma coisa que fez pelo Capital Inicial. Jogou a banda mod paulista numa estratosfera de sucesso que não teve paralelo nem nos anos 80. Foram dois anos de estrada até meados de 2006, quando Edgar Scandurra (guitarra), Nasi (vocal), André Jung (bateria) e Gaspa (baixo) estavam super felizes com o sucesso e com o buraco de pano dando risada, mas no completo bagaço. Aí o boss da gravadora Arsenal Music, Dom Rick Bonadio, lhes deu um ultimato, tinham que fazer um disco como previsto em contrato. Apesar de não lançar disco de carreira desde 2001, o IRA! só tinha quatro músicas na gaveta, Edgar conta num papo por telefone que o ritmo de turnê foi tão intenso que ninguém compôs coisa alguma.
Aí seu Bonádio sacou da manga a canção "Eu vou tentar", de Rodrigo Koala, e a banda se tocou que se não fosse à luta de um repertório, acabaria gravando um disco de intérprete.
- A música do Koala era legal, cabia no nosso som, mas me senti pressionado. Tínhamos quatro músicas, uma delas "Feito gente", do Walter Franco, uma admiração minha e do Nasi desde os tempos do colégio. Como a gente faz muita coisa no estúdio,fomos em frente. E foi tudo muito rápido, gravamos em novembro e um pouco dezembro, depois voltamos em fevereiro para finalizar. Foi tudo sob pressão, sobre a ameaça de ser um disco de intérprete, o que mexeu com nossos brios. A gente pensou ''não é possível que a gente não tenha capacidade de fazer um disco - conta Edgar.
Depois da limpeza do Acústico, o IRA! ataca neste "Invisível DJ" com uma sonoridade bem suja de muitas guitarras em cada canção, em algumas delas um límpido piano para fazer o contraste. O disco é bom de ponta a ponta, raridade hoje em dia, com um mix de lentas e rockões de boas letras e arranjos inspirados em que a banda fez valer sua experiência de 26 anos de estrada. Edgar espera ter conseguido fazer algo novo na sonoridade do IRA!, um objetivo alcançado com sucesso. Essa incorporação de teclados ajudou a dar uma riqueza ao som da banda, eles já vêm usando desde o "MTV ao vivo" em 2000, mas nunca com tanta sujeita sonora em volta.
-Nesse disco sinto influência do rock brasileiro, o que nunca tinha acontecido, a gente só falava de The Jam, The Who, mas desta vez a gente sente a presença de Raul Seixas, do Barão Vermelho e de outras bandas. O disco tem o conceito do rock nacional.
Algumas críticas de primeira hora apontaram o dedo do produtor Rick Bonadio na formatação do disco, mas Edgar diz que nada disso aconteceu:
- Ele só fez tirar da gente um trabalho legal sem impor nada. É muito diferente do Rick que faz o Rouge, o Dogão e os Mamonas. Ele sempre foi fã do IRA! e o respeito dele conosco transcendeu o modus operandi. O único elemento que partiu dele foi a música do Koala. Foi uma colaboração entre a banda que não dobra a cabeça para ninguém e o cara com uma pegada comercial. Espero que ele faça mais trabalhos como este.
O toque político com tons de sátira está em "O candidato", com letra na primeira pessoa: "Você votou em mim/ Eu te decepcionei/ Você vai acreditar se eu te disser que mudei". Parece uma alusão à volta triunfal do presidente Collor.
- Não pensei nele não. É sobre esse lance da política no Brasil de ninguém lembrar em quem votou nas últimas eleições e as promessas políticas deles. Eu usei duas citações, uma do Fernando Henrique Cardoso ("esqueçam o que escrevi") e uma do Lula ("Não há ninguém no Brasil mais honesto do que eu").
A capa é uma das mais bem trabalhadas da história do rock brasileiro, em digipack, capa dupla com encarte separado. Na capa reina soberana uma mosca, inseto presente também no primeiro disco de Walter Franco, admiração de Edgar e Nasi, e num dos sucessos de Raul Seixas, "Mosca na sopa".
- O que eu entendia como Invisível DJ é a força de uma música que acompanha a pessoa na alegria e na tristeza, uma presença que não é vista. A mosca é isso, uma presença invisível à qual se dá a importância de coloca-la numa capa - diz Edgar, que confessou não ter pensado antes no fato de a mosca ser um inseto bastante incômodo e vetor de doenças. A mosca do IRA! É gente fina.