Se algum dia você estiver passando pela Rua XV e encontrar, perdido em um dos bancos próximos à Boca Maldita, um livro do escritor Cândido Ferreira Miranda, pode pegá-lo e levar para casa. Não se trata de um artigo de achados e perdidos, mas uma cortesia do próprio autor, que desde 2001 aproveita o mês de dezembro para doar alguns exemplares do seu último livro.
Laboratorista sênior aposentado, Miranda trabalha hoje no laboratório de uma farmácia homeopática, mas carrega consigo a paixão pelos livros desde a adolescência em Telêmaco Borba. "Escrevia poemas e tentava divulgar no jornalzinho da cidade ou no programa de rádio, mas não davam muita abertura, porque não tinha muito a ver, então, comecei a engavetar tudo", conta o autor, hoje com 56 anos.
A força do destino o levou a se mudar para a capital. "Trabalhava numa fábrica de papel em Telêmaco Borba e fui demitido no mesmo mês em que minha esposa faleceu com leucemia", lembra. O recomeço em Curitiba foi rápido: logo encontrou na Rádio Tropical AM o espaço de que precisava. Levou suas histórias ao programa do ex-deputado Íris Simões um dos proprietários da rádio e passou a ler causos de sua autoria para os ouvintes curitibanos. "Dessas histórias veio a ideia do meu primeiro livro, Meus Treze Contos", afirma Miranda, que, a partir de então, publicou de forma independente outros quatro livros: a antologia de poemas A Busca do Eu e as novelas Eco na Amazônia, Hitler, O Diário de Ana e O Renascer das Almas. Todos já ficaram à disposição dos transeuntes da Rua XV, junto com um cartão com o contato do autor e uma breve explicação do gesto. "Aproveito dezembro para fazer essa doação de livros, mas muitas pessoas não entendem", lamenta o escritor, que já recebeu e-mails e telefonemas de gente preocupada em devolver-lhe o livro esquecido. Entretanto, a maioria, ele garante, são mensagens de agradecimento. "Acho que é bom que as pessoas leiam, o Brasil precisa de mais leitores", completa.
Método
Miranda, que vende suas obras também nas livrarias e em centros médicos a preços que variam entre R$ 30 e R$ 50, diz que o método impessoal de doação de livros foi adotado quando percebeu reações desagradáveis por distribuir os exemplares em mãos. "Uma vez perguntei para um passante se ele aceitaria um exemplar e ele me respondeu com um não bem redondo, e ainda completou: se eu quisesse seu livro, eu compraria na livraria. Hoje, prefiro sentar em algum banco da Boca Maldita com um livro meu, levantar-me dali como se o tivesse esquecido e ficar observando a reação das pessoas".
Estrategicamente posicionado na frente da Galeria Tijucas, Miranda espia como os pedestres encaram seu livro: "alguns chegam meio sem jeito, pegam, dão uma olhada, até que um mais corajoso leva embora." A técnica parece dar certo: seus dois primeiros livros já estão esgotados e mais de 700 cópias de cada título restante já foram vendida. "A partir do momento em que eles se pagam, já fico satisfeito com a vendagem. A ideia é publicar 16 livros no total, tenho muito material guardado ainda", comenta.
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