Nicola Lecca usa em A Pirâmide do Café uma escrita cinematográfica. Apresenta seus personagens no presente, com capítulos curtos e concomitantes. Por exemplo: “Manhã de sábado. Ainda não são dez horas, mas a senhora Haines já está diante da porta da cabeleireira”. Em vários momentos, lê-se que “nesse mesmo instante” outro personagem está em outro canto da cidade. A manobra traz velocidade e uma espécie de gravidade ao texto, já que tudo parece estar sempre “preste a acontecer”.
Diferentemente da tragédia que o estilo faz temer, o que acontece no livro é como uma fábula, em que um imigrante é destratado e, depois, apoiado. O grande vilão que surge é o próprio capitalismo, no que soa um pouco maniqueísta, já que o mocinho é completamente bom, com exceção de sua ingenuidade, que não chega a ser um defeito. Mas o bilionário empregador tem zero escrúpulo, e é ruim até quando faz a coisa certa. O dinheiro corrompe? Não chega a ser essa a mensagem. Mas demora até que surja um inglês bacana. (HC)
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