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Há uma frase em A Suprema Felicidade (veja horários das sessões; atenção a data de validade da programação em cinza), dita pelo personagem de Marco Nanini, o avô do protagonista, algo como "não existe felicidade, apenas alegria". É essa tônica que permeia o novo trabalho do cineasta Arnaldo Jabor, que tenta fazer uma espécie de "Amarcord" num filme sobre memórias desordenadas, lembranças mal resolvidas e saudade do passado.
Estreando em 170 salas em todo o país, "A Suprema Felicidade" marca o retorno de Jabor ao cinema depois de duas décadas - seu último trabalho no cinema havia sido "Eu Sei Que Vou Te Amar", de 1986.
Nesta nova obra, não encontramos o tom ácido e visceral de seus melhores filmes, como "Toda Nudez Será Castigada", "O Casamento" e "Tudo bem", mas, sim, uma nostalgia melancólica de um passado que se perdeu. Ainda assim, o filme se torna atemporal, ao colocar em seu centro a eterna insatisfação do ser humano e a busca pela felicidade.
Inspirado na família do diretor, em pessoas que conheceu e episódios que viveu, o enredo tem uma estrutura próxima a um romance de formação, acompanhando a vida de seu protagonista desde a infância. Há uma linha narrativa, guiada especialmente pela relação entre Paulo, o personagem principal, e seu avô Noel (Nanini). A eles, somam-se episódios e personagens que entram e saem sem muito aviso ou deixar impressões mais fortes.
Paulo é interpretado por três atores: Jayme Matarazzo, na passagem para a vida adulta; Michel Joelsas, quando pré-adolescente; e Caio Manhente, ainda criança. As fases da vida do protagonista correm em paralelo. Acontecimentos de um período reverberam no futuro - como quando ele se vinga de um menino que lhe bateu quando pequeno.
A vida familiar é cheia de altos e baixos. O pai (Dan Stulbach, de "Tempos de Paz") é piloto da Força Aérea Brasileira, a mãe (Mariana Lima, de "Árido Movie") deixou de seguir seus sonhos para cuidar da casa. O avô boêmio é quem traz colorido à vida do menino, junto com a avó (Elke Maravilha), que gosta de cantar e se divertir. A história começa com o fim da Segunda Guerra e vai até a entrada de Paulo na vida adulta, que inclui sua descoberta do sexo.
Os episódios da vida de Paulo, que conduzem "A Suprema Felicidade" nem sempre agregam algo à narrativa, mas compõem uma crônica do amadurecimento do personagem. É uma estrutura arriscada, pois nem sempre se dá um tempo orgânico para a introdução de novos personagens e seus desenvolvimentos, reduzindo-os, assim, a estereótipos.
São essencialmente as mulheres que moldam a trajetória do protagonista. E Jabor faz questão de que, mais cedo ou mais tarde, elas apareçam nuas em cena. Maria Flor interpreta uma moça atormentada pelo fantasma da mãe suicida, que lhe manda cartas do além, e dança nua por sua casa, que parece saída de um filme de fantasmas ou algum conto gótico.
Tammy Di Calafiori é uma dançarina de cabaré que dubla Marilyn Monroe, com direito a peruca platinada e figurino sexy, e que é cafetinada pela mãe, interpretada por Maria Luísa Mendonça. Paulo se apaixona pela moça e não se importa de pagar para saírem juntos. A história de amor entre os dois é um tanto frágil, sem nunca conseguir despertar uma empatia mais forte, seja pela irregularidade das interpretações ou do desenvolvimento do romance.
Alguns dos melhores momentos são os que beiram o sonho, como quando a rua é invadida por um bloco carnavalesco e todos começam a dançar. Mas são poucos ao longo das mais de duas horas que acompanham o amadurecimento de Paulo. O peso do tempo sem filmar parece cair sobre Jabor, que faz um trabalho cheio de excessos, sejam de personagens ou narrativos. Muita coisa parece apressada no seu desenvolvimento e sem conclusão. Esse é o caso do melhor amigo de Paulo - um personagem que some na bruma, depois de trocar olhares sedutores com um sujeito num bar.
Ao se deparar com "A Suprema Felicidade", a geração que conhece Jabor apenas como comentarista de televisão ou colunista de jornal pode até duvidar que ele já foi um grande cineasta. Mas basta ver seus trabalhos mais antigos para ter certeza de que ele já soube muito melhor como articular imagens numa narrativa, sem se valer de excessos ou caricaturas.
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