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Não é exatamente uma novidade afirmar que a rebeldia adolescente da roqueira Pitty é rudimentar e desprovida de qualquer sofisticação poética ou melódica. Suas canções de auto-ajuda, escoradas por uma roupagem musical paupérrima, podem até encontrar alguma ressonância junto ao público mais jovem, carente de porta-vozes carismáticos e de mensagens de fácil assimilação, mas elevar a cantora à condição de "ícone instantâneo de uma geração" não apenas é precipitado, como também é um equívoco.

Se é para buscar alguma voz crítica e provocativa entre artistas da nova geração que estão na mídia, uma sugestão é ouvir com atenção o recém-lançado CD do cantor carioca Jay Vaquer, Você Não Me Conhece, lançado pela EMI. Se não chega a ser um grande disco, o registro apresenta um jovem artista inquieto tanto do ponto de vista formal quanto existencial – e sem as palavras de ordem simplistas de sua contemporânea baiana.

Em "Cotidiano de um Casal Feliz", primeiro single do disco e já entre os clipes mais rodados pela MTV Brasil, Jay destila seu inconformismo: "...ele guarda no H.D./ fotos de crianças nuas / pra tirar um lazer / curte ver aquilo quando fica só / Ela conta os passos que dá no trajeto / entre a terapia e a boca de pó / (...) / Eles foram ver o show da Diana Krall / que alguém falou que era genial / gritaram uhuuu do camarote / enchendo a cara de scotch".

Esse petardo, desferido sem piedade contra a hipocrisia burguesa, pode ser interpretado como rebeldia juvenil – o que não deixa de ser. O diferencial é que as referências musicais e culturais de Vaquer – filho do guitarrista norte-americano de Raul Seixas (de quem herdou o nome) e da cantora Jane Duboc – dão a essa postura um estofo bem-vindo.

As letras do cantor e compositor, que assina todas as faixas do álbum, são inventivas e emolduradas por arranjos que misturam sonoridades eletrônicas e roqueiras num formato ao mesmo tempo palatável e diferenciado. Representam um passo firme no caminho de um artista de futuro. GGG

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