"O evento teatral mais importante do país"
"Considero o Fringe, hoje, o festival mais importante do país", diz Chico Pelúcio. "Porque é onde se respira o novo, o não-consagrado, o que está sendo gestado ainda, sem que a mídia e os fazedores tenham tanto conhecimento."
Para o ator do Grupo Galpão (que inaugura a Mostra Contemporânea com Till), porém, a mostra paralela, como era feita até o ano passado, ou seja, sem nenhum tipo de curadoria, não dava vazão a todo potencial que tem como um espaço de pesquisa e compartilhamento importante para a "sustentabilidade" do teatro brasileiro. "O tiro pode sair pela culatra porque vira um mercadão e a possibilidade de troca e construção coletiva acaba se dissolvendo na concorrência absurda."
Convidado a cuidar da curadoria do Teatro Novelas Curitibanas, assim como Beto Andretta fez pelo Cleon Jacques, Pelúcio mantém boas expectativas para o futuro do evento. "Estou acreditando que, no ano que vem, o festival certamente vai dar uma atenção maior a essa reestruturação do Fringe." (LR)
No ano passado, a diretora paulista Cibele Forjaz trouxe à Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba uma adaptação radical do clássico Maria Stuart, de Frederic Schiller. Em Rainha[(s)] Duas Atrizes em Busca de um Coração, as duas intérpretes saíam dos seus papéis de soberanas e se apresentavam também como as mulheres contemporâneas que são, em um jogo de idas e vindas entre o ontem e o agora, entre o drama encenado e o fazer teatral revelado.
É também como uma espécie de jogo que se desenrola De Como Fiquei Bruta Flor, espetáculo com o qual retorna este ano, desta vez no Fringe, a convite do curador Chico Pelúcio.
Mais uma vez, são duas atrizes frente a frente, expondo as estruturas enquanto encenam um drama, mas a dinâmica é outra. Em um cenário dividido como uma quadra esportiva, decidem nas cartas qual será a próxima sequência e que tarefa cada uma cumprirá: "dirigir" ou "atuar". Àquela que tiver o segundo destino, caberá desfiar "um depoimento em carne viva" palavras da diretora sobre um amor abandonado.
O texto foi escrito por Cláudia Schapira, integrante do Núcleo Bartolomeu, que se junta à Cia. Livre de Cibele Forjaz e às companhias Oito Nova Dança e São Jorge de Variedades numa montagem feita por mulheres e sob a ótica feminina que terá apresentações a partir do dia 22 no Teatro Novelas Curitibanas.
Curador
De Como Fiquei Bruta Flor, assim como todos os outros espetáculos que ocuparão o casarão durante o Fringe, chega por obra de Chico Pelúcio, ator do Grupo Galpão. "Esse espetáculo simboliza a tendência de os grupos experimentarem encontros, como o XIX com o Espanca!, a Cia. Clara e Piolin, o Galpão e o Armazém", diz o curador, acrescentando um motivo à escolha: "e pela direção da Cibele, que é inquieta e tem feito coisas superinteressantes".
A peça de câmara é a única paulista no meio de uma seleção marjoritariamente mineira, mas que abriu espaço para um grupo do Rio Grande do Sul também. Pelúcio se guiou pelas possibilidades oferecidas pelo Novelas Curitibanas um espaço pequeno, mas adaptável a diferentes configurações de palco e plateia. "Escolhi espetáculos que têm essa característica de um público menor e feitos para serem visto mais de perto." Além disso, investiu no teatro de grupo.
São quatro mineiros, entre os quais um a sobressair é o Quatroloscinco, único que escapou do palco do Novelas Curitibanas para o Mini-Guaíra, onde apresentará É Só uma Formalidade, também como parte da programação sugerida pelo curador. Uma das qualidades da montagem primeira da companhia, já com ótima repercussão de crítica e público é a comunicação com a plateia, tanto pelo humor quanto por diálogos específicos, que se dirigem aos espectadores e os envolvem na encenação para comprovar um argumento central da peça.
"É a principal característica desses espetáculos da minha programação: terem dramaturgia própria e serem construídos nesse processo de interlocução com o espectador", diz Pelúcio.
O curador destaca John & Joe, da Cia. de Teatro Trama: "uma montagem corajosa que trabalha com a dilatação do tempo, a repetição, tem bons atores em cena e um diretor consagrado em Belo Horizonte, o Eid Ribeiro, que dirigiu o Galpão em Álbum de Família e Corra Enquanto É Tempo".
A companhia Teatro Invertido, em cartaz com Estado de Coma e Proibido Retornar, compartilhou com o público o processo de criação, dos ensaios até o resultado final. E o grupo Andante estreia Barbazul no Fringe, depois de fazer um ensaio aberto na capital mineira.
Quem vem do Rio Grande do Sul é a companhia O Mundo Interior, com a peça O Bairro indicada ao prêmio Açorianos, da Secretaria de Cultura de Porto Alegre, como melhor espetáculo, direção e pelas atuações. Pelúcio não viu de perto o trabalho ainda, mas acompanhou o processo de ensaios, assistiu à peça em vídeo e aposta na qualidade das interpretações, e na linguagem que também privilegia a proximidade com o público.