A Bienal de Veneza reconhece os talentos mundiais nas diversas áreas artísticas, concedendo um premio especial pelas carreiras, seja em musica, teatro, arte, arquitetura, dança e cinema. São os Leões de Ouro, que distinguem os méritos de trajetórias notáveis em suas especialidades. Neste ano, a direção da Mostra Internacional de Arte Cinematográfica decidiu honrar o realizador chinês John Woo. Ele recebeu a homenagem em cerimônia realizada na última sexta-feira.
Era mais ou menos previsível que, num país historicamente simpático a tudo que procede do Oriente, e mais especificamente no âmbito de um festival conduzido por um diretor como Marco Muller, fluente 11 línguas, entre elas o mandarim, chegasse, mais cedo ou mais tarde, a vez do cineasta Woo receber seu troféu. É um típico homem de cinema made in Hong Kong.
Woo, hoje aos 64 anos, também é um diretor interessante em sua especialidade, a ação. Seus planos em câmera lenta acentuam a dramaticidade e eletrizam até o paroxismo as sequências que conduz. Quentin Tarantino e Sam Raimi consideram Woo o mestre dos mestres. Entre seus feitos mais notáveis, estão o relançamento mundial do cinema de Hong Kong nos anos 1990 e a abertura de Hollywood para inúmeros compatriotas. Há quem o considere um inovador da linguagem cinematográfica, mas a maioria de quem observa sua filmografia mais atentamente prefere vê-lo como alguém com ilimitada capacidade de tirar o fôlego da platéia com fulminantes doses de adrenalina.
Biografia
Nascido em Guangzhou, em 1946, Yusen Wu (seu nome de batismo) foi curiosamente criado em família católica, religião minoritária na China. De fato, o cineasta recorre com frequência à iconografia católica em filmes como O Assassino e Missão Impossível 2. Por volta dos seus 20 anos, quando Woo começava a buscar trabalho, era o tempo de glória de Bruce Lee nas telas de todo o mundo e o cinema de Hong Kong desfrutava de enorme prestígio.
Atraído pelo cinema de ação de ação da época, Woo conseguiu trabalho como diretor de segunda unidade no estúdios dos irmãos Shaw. E logo demonstrou qualidades que o levaram à rápida ascensão, em filmes como Fists of the Dougle K, típica aventura de desenfreada pancadaria fake de Jackie Chan. A partir desse momento, e como o resto dos cineastas de Hong Kong, Woo prossegue em prolífica carreira, abrangendo diversos gêneros até o êxito de Um Amanhã Melhor , de 1986, o colocar na trilha dos grandes tiroteios.
Em 1989, veio a consagração definitiva, pelo menos entre seus muitos e fieis seguidores, com The Killer. Nesse filme, Woo criou um estilo todo próprio, a partir daí muito imitado: um fiapo de trama, sempre pueril, coreografias tão inverossímeis como espetaculares na fuzilaria e a utilização da câmera lenta no momento-chave da troca de tiros, quando, por exemplo, os protagonistas se lançam contra uma centena de pistoleiros que os cercam. Com ele, foram lançados os cânones do chamado novo cinema asiático. De ação, bem entendido.
Presentes também nessa bula certas obsessões e marcas de fábrica, como as onipresentes pombas e os heróis que se defendem com duas pistolas ou jogam providenciais revólveres aos amigos em dificuldades. Seguem esse mesmo receituário Bala na Cabeça e Hard Boiled, que agregam admiradores entusiasmados como Martin Scorsese, Tarantino e Robert Rodriguez, que o imita descaradamente em A Balada do Pistoleiro estranha coincidência, ou não, a presença de Tarantino, Rodriguez e Woo nesta edição de Veneza...
O primeiro que ofereceu trabalho a Woo em Hollywood foi Sam Raimi, o diretor de Homem-Aranha. Wood dirige Jean-Claude Van Damme de maneira muito semelhante à de seus filmes de Hong Kong. E então vem a consagração nos EUA com A Ultima Ameaça , A Outra Face e Missão Impossível 2 grande êxito de bilheteria, apesar de sua debilidade. O certo é que o injusto fracasso de Códigos de Guerra e a qualidade inferior de O Pagamento balançaram muito a credibilidade de Woo nos EUA.
Enquanto sua relação com Hollywood parecia abalada, Woo voltou à terra natal, onde realizou a superprodução Red Cliff , de 2008. O cineasta declaradamente define o filme como uma tentativa de reconquistar o "seu" mercado abalado. Tiro certo: o épico estourou nas bilheterias asiáticas e reabriu portas para Woo.
No momento em franca recuperação da autoestima, Woo está às voltas com os projetos Flying Tigers, uma espécie de Doze Condenados de combate aéreo na Segunda Guerra Mundial, e a refilmagem do clássico do noir francês O Samurai, o cult que Jean Pierre Melville realizou em 1967 declaradamente uma das primeiras influências do diretor chinês.
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