Quem fazia
Artistas que despontavam naquela década e outros já consolidados participaram de Nicolau, a convite de Wilson Bueno e demais editores:
Milton Hatoum
O autor amazonense de Relato de um Certo Oriente era um escritor iniciante à época em que colaborava com o periódico paranaense. Em 1989, recebeu o Jabuti por esse romance, e não parou mais de figurar entre premiados brasileiros.
Paulo Leminski
Na opinião do secretário Paulino Viapiana, o período de dois anos em que o artista colaborou com Nicolau, antes de sua morte em 1989, foram um dos momentos mais produtivos da carreira, e quando o paranaense se firmou como poeta de reconhecimento nacional.
Josely Vianna Baptista
A colaboradora de Nicolau hoje é respeitada tradutora nacional.
Rodrigo Garcia Lopes
Atuou na redação do jornal, com textos e traduções, e hoje atua em diversas frentes artísticas.
Outros nomes de diferentes áreas participaram, como os designers Luiz Antonio Guinski, Rita Solieri, Nelson Bond e Joba Tridente, além de fotógrafos, como Lina Faria.
Jamil Snege, com sua veia publicitário-poética, e outros artistas que já faziam carreira à época, como Ferreira Gullar, Arnaldo Antunes, Dalton Trevisan e Sérgio SantAnna também contribuíram.
O boom literário vivido pelo Paraná hoje, com diversos autores premiados por romances, contos e traduções, lança raízes na valorização do debate artístico de décadas passadas. Resgatar essa história faz parte da compreensão da atualidade, um dos motivos que estão levando à reimpressão das 60 edições de Nicolau, jornal da Secretaria de Estado da Cultura que vigorou entre 1987 e 1996.
A iniciativa, a cargo da Biblioteca Pública do Paraná e prevista para sair em março do ano que vem, tem um precedente na ressurreição de Joaquim, periódico tocado por Dalton Trevisan nos anos 40 e reimpresso no ano 2000.
"Esse foi o principal veículo cultural do estado, com textos de importantes personalidades da área cultural e importância extraordinária para servir de canal de divulgação do Paraná", relembra o secretário da Cultura, Paulino Viapiana. "Mesmo morando em Brasília, recebia o jornal regularmente."
A morte repentina de Wilson Bueno em 2010, idealizador e editor do periódico durante quase toda a década de existência, serviu como uma chacoalhão para tirar o projeto do papel.
Há mais de um ano, as 1.828 páginas de Nicolau, arquivadas na Biblioteca, passam por digitalização e tratamento, de forma a possibilitar a reimpressão pela Imprensa Oficial. A ideia é separar os 60 números (com média de 30 páginas cada) em três caixas de 20 a arte do pacote deverá ser realizada pelo ilustrador da Gazeta do Povo Osvalter Urbinati. A tiragem será de 2 mil unidades. Quando tudo ficar pronto, a prioridade será a distribuição para todas as bibliotecas do estado, além dos principais acervos literários nacionais e instituições do governo do estado. O restante (cerca de 1 mil pacotes) poderá ser vendido em livrarias.
Nomes
"Fazer essa reedição nos parecia uma obrigação", confessa o diretor da Biblioteca Pública, Rogério Pereira. Ele conta que se surpreende com a frequência com que o periódico é lembrado fora do Paraná. "Por onde eu passo, em eventos literários pelo Brasil, as pessoas lembram dele. Foi super importante na cena nacional."
A relevância se explica pelo tino e dedicação do idealizador e editor Wilson Bueno, escritor morto em 2010. "Havia a tentativa de se fazer um raio-x da produção local. Muitos autores que colaboraram vingaram. Outros desapareceram", explica Pereira, para quem o Paraná sempre se destacou pela efervescência literária e suas publicações.
Um nome importante no cenário nacional é o do escritor amazonense Milton Hatoum, que colaborou com os primeiros números do jornal e pouco tempo depois inaugurou sua galeria de prêmios literários.
Era vasta a participação de nomes como Paulo Leminski e Jamil Snege e de artistas plásticos como Rogério Dias e Denise Roman, que hoje integram o panteão paranaense das artes.
Uma das mostras da ousadia de Nicolau foram as entrevistas publicadas, com nomes como o do político Luís Carlos Prestes e do então "sumido" Arrigo Barnabé. Outro destaque são reportagens investigativas no campo cultural, como sobre um artista mal compreendido no interior do Paraná e uma estátua de Cristo abandonada aos pombos porque o escultor optou por retratar o corpo nu sem o tradicional lenço tapa-sexo. Saborosas são também as crônicas, como de Manoel Carlos Karam (morto em 2007). A jornalista Ruth Bolognese, então correspondente do Jornal do Brasil em Curitiba, escreveu uma delas sobre a incapacidade de entrevistar Dalton Trevisan.
Hoje
No momento, a revista Helena, também da Secretaria da Cultura, procura ocupar o vazio deixado pela morte de Nicolau o que teria ocorrido por falta de pessoal destinado a ele, após sobreviver a mudanças de governo e adentrar o período Jaime Lerner. Assim como seu precursor, Helena procura abordar diferentes campos da cultura. As primeiras edições foram temáticas, elaborando verdadeiros dossiês. Já no quinto número, a publicação agora deixa de lado os temas únicos e reduz o número de páginas para abordar atualidades culturais.
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