Dono da maior biblioteca particular do Brasil, o advogado e empresário paulista José Mindlin esteve no último sábado (24) em Curitiba, onde proferiu palestra para mais de 200 professores. Aos 93 anos, Mindlin já reuniu um acervo de aproximadamente 38 mil títulos, que incluem exemplares raríssimos, como um da primeira edição ilustrada dos Sonetos, de Petrarca, impressa em 1488, e a primeira edição de Os Lusíadas, de Camões, de 1572.
Em entrevista concedida à Gazeta do Povo, o bibliófilo fala sobre seu amor aos livros, que começou aos 13 anos e que lhe valeu a eleição para a Academia Brasileira de Letras (ABL) no ano passado.
Caderno G - Como surgiu essa paixão pela literatura?José Midlin - Surgiu como um fato natural, porque em casa existia esse interesse dos meus pais, que já o tinham transmitido aos meus irmãos maiores e naturalmente aquilo se estendeu a mim. Além de que paixão não se explica.
CG - Então o estímulo ao gosto pela leitura deve começar cedo, dentro de casa?JM - O mais cedo possível. Tenho visto, como falei na palestra, bisnetos tenho bisnetos com 5 e 6 anos que já têm interesse pela leitura, ouvem com atenção aquilo que a gente fala e aí eu estaria, mesmo involuntariamente, inoculando o vírus do amor à leitura.
CG - Esse interesse pode ser despertado antes da alfabetização, com a contação de histórias?JM - Exatamente, ele preexiste à alfabetização, por isso é que contar histórias é tão importante. A gente conta uma história para a criança e normalmente a criança absorve de tal maneira que, quando a gente conta uma segunda vez, se há qualquer variação, a criança reprova, porque ela já gravou aquela história como ela foi contada pela primeira vez. Essa é a maneira de despertar o interesse para quando chegar a leitura.
CG - Como foi que o senhor conseguiu acumular um acervo tão grande?JM - É difícil de dizer, né? Um pouco é o que eu chamo de "loucura mansa": adquirir a compulsão de comprar livros com a ilusão de que conseguirá ler, mas a gente não consegue ler senão uma fração dos livros que a gente adquire. E em 80 anos dá para comprar muita coisa.
CG - De todas as obras que o senhor acumulou ao longo de todo esse tempo, qual a parcela que o senhor conseguiu ler?JM - Eu diria 15%, mas elas estão reunidas porque também o papel da gente é preservar o passado e transmitir essa obra do passado para o futuro. A gente passa, mas os livros ficam, de modo que o que os livros contêm vai beneficiar novas gerações. Estando numa universidade, então, nem se fala.
CG - O senhor então sente a necessidade de compartilhar com as novas gerações o conhecimento acumulado em sua biblioteca?JM - Eu doei à Universidade de São Paulo (USP) toda a parte que se chama de "brasiliana", livros de assuntos brasileiros, por autores brasileiros ou estrangeiros literatura, história, viagens, arte, história natural. Há uma porção de assuntos de interesse relativos ao Brasil: as grandes expedições estrangeiras do começo do século 19, que percorreram o Brasil com todos os riscos, todas as dificuldades e descrevem um Brasil que, em parte, ainda existe.
CG - Durante toda essa vida ligada à literatura, o senhor certamente já teve a oportunidade de ter contato com livros de qualidade discutível. O que acontece quando o senhor acha um livro ruim? Interrompe a leitura imediatamente ou lê até o fim para ter certeza do seu julgamento?JM - Depende. Há certos casos em que eu vou até o fim, porque Oswald de Andrade costumava dizer: "Não li e não gostei". Eu acho que a gente, para dizer que não gostou do livro, precisa ter lido até o fim. Mas é exceção. Em geral não abro, porque a gente tem a limitação do tempo.
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