Num banco feito de dormentes de estrada de ferro, José Zokner, o Juca, se senta às tardes para "tomar chimarrão e garatujar sobre coisas que precisam ser inventadas e pequenas constatações na falta de maiores".
Olhar calmo, barba hirsuta e revoltos cabelos brancos, Juca é uma daquelas pessoas que "dá passarinho", para usar a expressão do cronista Rubem Braga. Trata a natureza com a intimidade de velho amigo.
Na parede da entrada de sua residência quase campestre no bairro Vista Alegre há uma parede que, como num memorial militar, traz os nomes dos amigos caídos, cães e gatos de rua que adotou e cuidou ao longo da vida.
Em boa parte de seus 77 anos, Juca foi engenheiro civil. Em todos eles foi poeta e humorista, jogando com rimas que zombam com a "intrincada condição humana", cheias de seu ferino humor judaico e verve de jogador campeão de truco.
"Eu procuro ser um humorista. A tônica dos meus textos é o humor. Não sei escrever de outra maneira. Faço isso para manter sobrevivendo os neurônios sobreviventes", brinca.
Seu primeiro livro, Rimas Primas (AGE), lançado em 2004, recolhe boa parte do trabalho que Juca publicou durante treze anos na coluna "Rumorejando", no extinto jornal O Estado do Paraná. Seu poemas são divertidos, mas também delicadamente pensados, como os origamis que faz.
No final do ano passado, lançou seu segundo livro, 150 Sonetos & 1 Sonetão (Pseudos) (Nova Letra). A ressalva entre parênteses no título é para "livrar a cara" do autor, que não obedece ao pé da letra às regras da composição poética. O "sonetão" é um soneto multiplicado por dois (com 28 versos em lugar dos habituais 14).
A ideia para este livro nasceu depois que Juca submeteu uma longa narrativa em trova rimada a um concurso, patrocinado por um banco. O texto não foi selecionado, o que deixou Juca cabreiro. Para atestar a qualidade que reconhecia no próprio trabalho, enviou o texto a Millôr Fernandes, que deu seu veredito. "Excelente", escreveu o "guru do Meyer". O elogio do mestre lhe deu a coragem necessária para se autopublicar.
Glória bufa
Outro elogio, em forma de homenagem, Juca recebeu quando o compositor erudito Henrique Morozowicz (1934-2008), seu colega no Colégio Estadual na década de 1950, o procurou no ano de 2007. "Ele me disse que era meu leitor e que criara uma ária bufa em cima de um texto meu." Henrique de Curitiba morreu no ano seguinte.
Mas escreveu a peça "Constatação Fatal", que foi apresentada em um programa em homenagem ao compositor em 2010, na Capela Santa Maria.
"Eu tive meus dois minutos de glória na vida. O povo ouviu a peça e riu. Fui chamado ao palco e tive de fazer um discurso. Fui ovacionado. Somando meu discurso com os aplausos, temos os dois minutos", diverte-se.
Os textos de Juca podem ser lidos e seus livros adquiridos no blog rimasprimas.blogspot.com.