As cinco indicações dos jurados do Gralha Azul para o prêmio de melhor espetáculo do ano apontam para um desejo de renovação nos palcos. Pelo menos duas companhias podem ser consideradas estreantes o grupo de rua Ás de Paus (A Pereira da Tia Miséria, indicada em três categorias) e o Bifeseco (Vivienne, que concorre em cinco áreas). A peça com maior número de indicações, Avenida Independência 161 Trilha Sonora para Coisas Irreversíveis da Cia. MKF Produções, também é de um grupo com menos de dez anos de vida, e o projeto de Antes do Fim surgiu dentro do Núcleo de Dramaturgia do Sesi para formação de escritores.
"[A indicação] foi surpresa, porque essa foi a primeira grande peça da companhia", contou à Gazeta do Povo o diretor de Vivienne, Dimis Jean Soares. "Já apostávamos na Patrícia [Cipriano, indicada como melhor atriz revelação]. Mas quando vieram as outras dissemos nossa! Nos esforçamos para não cair na mesmice", explica.
A aposta num formato surpreendente levou a companhia a convidar, a cada sessão, de 12 a 15 pessoas da plateia para assistir a tudo do palco instaladas em confortáveis poltronas e bebendo uma marguerita, bebida pedida por um dos personagens diversas vezes. "Dali as pessoas tiveram uma visão da peça muito individualizada."
A obra concorre como melhor espetáculo, texto original, atriz revelação (Patricia Cipriano), ator coadjuvante (Diogo Zavadski) e direção (Dimis Jean Sores).
O diretor Mauro Zanatta, da Cia. do Ator Cômico, também conta ter se surpreendido bastante com as quatro indicações de sua adaptação de Noite de Reis (Como Gostais), de Shakespeare, com máscaras e sem palavras. "É uma peça que foge dos padrões. "Espero que seja uma mudança de visão [dentro do Gralha Azul]." O visual conferido ao figurino pelas máscaras que cobrem completamente o rosto não deixou de ser singularizado pelo júri, que indicou o trabalho ainda pela sonoplastia, direção e como melhor espetáculo.
Estímulo
Para as companhias em vias de crescimento, a própria indicação representa um empurrão bem-vindo na carreira. "Esse é um ponto importante para conseguirmos captação de recursos", explica Karla Fragoso, que concorre como melhor atriz coadjuvante por Avenida Independência 161. As outras categorias em que a peça concorre são texto original, cenário, sonoplastia, iluminação, atriz (Kassandra Speltri), direção (Paulo Biscaia) e melhor espetáculo.
A Pereira da Tia Miséria, do Núcleo Ás de Paus, é um espetáculo de rua com direito a pernas de pau. Após a apresentação no Fringe, em Curitiba, a peça foi uma das que mais agradaram no Festival Internacional de Londrina.
O texto, uma fábula portuguesa, tem entre os personagens a morte, que impressiona com pernas de pau altíssimas imitando ossos. Além do figurino, o trabalho foi indicado na categoria de melhor ator (Guilherme Kirchheim) e como melhor espetáculo.
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