Cinco
É o número de indicações ao Oscar do filme A Teoria de Tudo: melhor filme, ator, atriz, roteiro adaptado e trilha sonora original.
O tempo é um elemento fundamental em A Teoria de Tudo. É o principal objeto de estudo do físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking suas descobertas sobre a natureza do tempo-espaço, afinal, o fizeram ser quem é. Foi o tempo, também, a medida utilizada pelo cientista para compreender que sua existência (já brilhante) estava chegando ao fim quando, aos 21 anos, soube da doença degenerativa que possui. O médico lhe deu dois anos de vida depois do diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica (ELA), que paralisa os músculos do corpo sem, no entanto, atingir o cérebro. É como se Pelé ficasse biruta, mas continuasse a jogar futebol. Contrariando tudo principalmente o tempo Stephen Hawking está aí, com 73 anos.
O filme de James Marsh que estreia hoje nos cinemas é baseado no livro Travelling to Infinity: My Life with Stephen (sem tradução para o português), escrito por Jane Wild, com quem Hawking foi casado por 20 anos. O drama relembra as primeiras descobertas do futuro cientista, na Inglaterra dos anos 1960, e mira na história de amor (paciência, bravura e determinação são palavras que também caem bem) que teve com sua primeira esposa, Jane.
O início é digno de um filme de sessão da tarde, não fosse uma passagem engraçada que quebra uma sugestiva monotonia melodramática. É quando Stephen conhece Jane em uma festinha, consegue seu telefone e explica o que faz. "Cosmologia. É a religião dos ateus inteligentes," diz o garoto à garota, que canta no coral da igreja.
A atuação monstruosa de Eddie Redmayne (aposta segura para vencer o Oscar de melhor ator) recria um Hawking engraçado, charmoso e principalmente obstinado. O impacto da descoberta da doença, e a notícia de que teria pouco tempo de vida, inicialmente o fazem acelerar seus estudos, como se soubesse de antemão que tinha de oferecer à humanidade um conhecimento imprescindível.
Mas James Marsh vencedor do Oscar em 2009 pelo documentário O Equilibrista empastela as coisas e constrói uma narrativa clássica e bonita, embora fragilizada pela pouca profundidade com que trata os conflitos que se seguem. O episódio eufemístico do ateu convicto contra a católica apaixonada é um bom exemplo de oportunidade desperdiçada na trama. Outro é a relação do casal com um professor de música, viúvo, que se aproxima da dupla quando Jane dá sinais de cansaço e diz "preciso de ajuda", Stephen. O professor acabaria por casar-se com Jane, com o aval do físico, que por sua vez manteria um relacionamento com a enfermeira Elaine Mason por dez anos.
Com o avanço da doença, as mudanças constantes e importantes na vida do cientista a adaptação à cadeira de rodas motorizada ou a uma nova forma de comunicação são tratadas de forma abrupta e incomodamente ingênua. Stephen nunca reclama, está sempre feliz e otimista. Ora, mesmo para o mais cético, viver de forma dependente deve ter seus momentos "Deus me acuda".
Em entrevistas, Stephen Hawking classificou o filme como "bastante acertado". Talvez pela ótima trilha sonora do islandês Jóhann Jóhánnsson (vencedor do Globo de Ouro), pela fotografia dessaturada ou até pelo figurino em algumas cenas, Eddie Redmayne parece estar vestindo números maiores para parecer mais frágil, menor. Mas se a guerra fabulosamente irônica que travou com o tempo, justamente uma de suas paixões, quase ficou com cara de novelão, é porque tem algo de errado aí.
Deixe sua opinião