Russell em 1981: cineasta inglês foi indicado ao Oscar de melhor direção por Mulheres Apaixonadas| Foto: AFP

Destaques

Confira a lista dos filmes que marcaram os pontos altos da extensa e excêntrica filmografia de Ken Russell:

- Mulheres Apaixonadas (1969)

- Delírio de Amor (1970)

- O Namoradinho (1971)

- Os Demônios (1971)

- Mahler (1974)

- Tommy (1975)

- Viagens Alucinantes (1980)

- Crimes de Paixão (1984)

- Ária (1987) – co-diretor, em parceria com Robert Altman, Bruce Beresford, Bill Bryden, Jean-Luc Godard, Derek Jarman, Franc Roddam, Nicolas Roeg, Charles Sturridge e Julien Temple.

CARREGANDO :)

Diretor de filmes polêmicos como Mulheres Apaixonadas e Os Demônios, o inglês Ken Russell morreu no último domingo aos 84 anos. Segundo seu filho, Alex, Russell morreu dormindo, no hospital onde estava internado. A causa da morte não foi informada.

Russell foi um típico exemplar da cultura dos anos 1960 e 1970, com sua rebeldia explícita e às vezes questionável. Nasceu em Southampton, Hampshire em 3 de julho de 1927 e começou a ser notado aos 30 e poucos anos de idade, quando ganhou fama de enfant terrible do cinema inglês. Naquela época de contestação, não era fácil se distinguir como rebelde. Mesmo assim Russell se destacava.

Publicidade

Teve, no entanto, um começo bastante convencional em seu trabalho na BBC. Dirigindo curtas e filmes sobre compositores como Elgar e Debussy, não se poderia adivinhar a carreira do futuro demolidor. Deu, no entanto, um salto qualitativo em 1969, ao dirigir uma insólita versão de Mulheres Apaixonadas, o clássico de D.H. Lawrence (livro que já havia tido sérios problemas com a censura em outras épocas). Russell o radicalizou e promoveu uma estranha luta de boxe com os protagonistas sem roupas. Interpretado por Oliver Reed, o nu frontal do filme quebrou um tabu para a época. A produção também rendeu um Oscar de atriz para Glenda Jackson e tornou-se um cult.

Chocar era com ele, assim como tornar explícitas coisas que outros, apesar da liberalidade do tempo, ainda preferiam jogar para debaixo do tapete. Por exemplo, hoje ninguém nem notaria se um diretor, numa cinebiografia, apontasse a homossexualidade de um compositor. Mas, naquela ocasião, Russell chocou ao deixar clara a opção sexual do compositor russo Tchaikovski em Delírio de Amor, de 1970. Prova de que as décadas de 1960 e 1970 eram uma curiosa mistura de caretice e avanço nos costumes, mesmo em centros desenvolvidos.

E ainda mais no Brasil, que suportava a truculência e o pudor moral da ditadura militar e assim proibiu em todo território nacional a exibição de Os Demônios (1971). O filme, também estrelado por Reed, que contracena com Vanessa Redgrave, mostra um caso de repressão sexual na França do século 16. Revisto hoje, provavelmente não teria nada de mais. Mas compreende-se o que insinuava (na verdade deixava bem claro) na época: que a sexualidade, quando recalcada, tende a se transformar numa perigosa perversão. Reflete, no fundo, ideias libertárias correntes naqueles anos, como as do psicanalista Wilhelm Reich.

The Who

No entanto, é com Tommy, de 1975, uma ópera-rock composta pelo grupo The Who, que Russell chegou ao ápice como diretor. O filme traz em seu elenco os próprios músicos e é marcado pelo visual extravagante com toque francamente surrealista. O tema, recorrente na narrativa ocidental é o do militar desaparecido na guerra, dado como morto até que um dia reaparece. No ínterim, a esposa, que cuidara do seu filho Tommy, conhecera outra pessoa.

Publicidade

A ópera-rock fora encenada pelo The Who em 1969 e Russell retomou a história com algumas modificações. Por exemplo, trazendo a trama da Primeira para a Segunda Guerra Mundial. Deu-lhe também uma leitura psicodélica e foi um grande sucesso mundial.

Há quem prefira outro filme de Russell, Crimes de Paixão (1984), com Kathleen Turner e Anthony Perkins. Kathleen faz Joana, uma estilista divorciada que resolve contornar seus problemas financeiros como garota de programas a preços módicos. No métier, conhece um fanático que decide empreender seus esforços para tirá-la da chamada vida fácil. O filme chegou a ter problemas com a censura americana. É um belo e ousado trabalho, levado com a habitual mão iconoclasta de Russell, que, nos pontos altos de sua carreira, manteve-se alheio às concessões exigidas pelo cinema comercial.

Nem sempre foi assim e o prolífico Russell deixou também obras nada memoráveis. Um dos seus últimos trabalhos foi The Fall of the Louse of Usher, uma paródia do texto de Edgard Allan Poe, já levado para o cinema por outros diretores, como Roger Corman. Mas o fato é que Russell já havia tido seu melhor momento numa época em que a contestação ainda era possível.