Kendrick Lamar é hoje o que Michael Jackson era nos 80. Ou o que Jay-Z foi nos anos 90 e Kanye West, nos anos 00. O tipo de músico que faz uma parte significativa do mundo parar para ouvir um disco novo. Quando Kendrick fala, muita gente escuta.
No domingo (15), ele antecipou o lançamento de To Pimp a Butterfly (disponível no Spotify), o sucessor de Good Kid M.A.A.D. City (2012).
Para uma estrela do hip-hop, Kendrick é incomum. Dizem que bebe raramente e que não fuma. Apesar de ter ganhado pilhas de dinheiro, se recusa a ostentar.
Vive em um apartamento perto da região onde cresceu: Compton, na Califórnia. Pelo que conta nas músicas, ter saído de lá para conquistar fortuna e fama foi uma proeza espetacular.
Ele tem uma namorada (a mesma há mais de dez anos) que ninguém sabe quem é porque ela não quer ser conhecida e ele respeita a decisão dela. Para efeitos de comparação, Jay-Z é casado com Beyoncé e Kanye West, com Kim Kardashian.
Kendrick tem 27 anos e compõe músicas em que, às vezes, soa raivoso (como na faixa “The Blacker the Berry”, argumentando que os negros precisam se respeitar antes de exigir o respeito dos outros); às vezes, ele soa otimista (”i” é um exercício de amor próprio com versos que dizem “I love myself”, eu me amo, numa batida irresistível).
Disco
Kendrick Lamar. Disponível no Spotify.
To Pimp a Butterfly não funciona como um disquinho pop que você ouve e descarta rápido. É um álbum com começo, meio e fim que tem muita munição. A cada audição, ele dispara contra você (e a favor de você) e as balas não acabam. A princípio, elas parecem não ter fim. E isso é bom.
Kendrick não está interessado em escrever letras que falam sobre o carrão que dirige, as mulheres que pega e as joias que compra. O homem entende que serve de referência para muitos jovens e leva essa papel a sério. Sensato demais (quantos anos ele tem mesmo?) para bancar o papel de mocinho, ele não quer salvar o mundo.
A ambição dele é dizer coisas que considera importantes.
Se tem alguma lição para passar, ela tem a ver com ser gente num mundo cheio de pessoas que só parecem gente, mas se comportam como outra coisa.
No que diz respeito à música, o disco novo é o trabalho mais impressionante de Kendrick por investir em elementos do soul (como no baixo matador de “King Kunta”) e do jazz (nos metais de “For Free?”).
Embora saiba ser político e discuta preconceitos contra negros, Kendrick também consegue falar sobre outros sentimentos: como na repetição angustiada do verso “amar você é complicado” (“loving you is complicated”), na faixa “u”.
Faz sentido que exista uma música intitulada “Você” no disco que tem também uma chamada “Eu”. Kendrick fala si, mas sempre preocupado com quem vai ouvir o que ele está dizendo.
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