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Um impasse se instaurou nas últimas semanas entre Frans Krajcberg e a Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Em 1995, o artista polonês naturalizado brasileiro cedeu à cidade 110 esculturas de madeira de grande porte, com direito a cerimônia inaugural com as presenças dos então presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador Jaime Lerner. Suas obras deveriam alertar os seres humanos sobre suas ações devastadoras na natureza; o espaço em que estão abrigadas seria usado como local de encontro e de conscientização do público. Em agosto deste ano, ao revisitar suas esculturas guardadas pela FCC no Espaço Cultural Frans Krajcberg no Jardim Botânico, o artista de 85 anos não gostou do que viu.

"Aquilo tem de ser fechado imediatamente. Quero as minhas obras de volta e vou levar a questão à Justiça se for necessário", disse Krajcberg em entrevista por telefone, a partir da sua residência em Nova Viçosa, litoral da Bahia. Ele diz que seu trabalho está largado, mal conservado, adulterado e pouco visitado. "Ninguém parece perceber que esse é um grande pedaço da minha vida e que essa é uma doação de boa fé de 110 esculturas para a cidade de Curitiba", afirma.

Outras esculturas de Krajcberg estão espalhadas em diversas partes do mundo, inclusive no Centro Georges Pompidou, em Paris, onde são grande sucesso de público. "Já é a segunda vez que tenho esse tipo de problema em Curitiba. Esse abandono eu nunca mais vou permitir, dessa vez é definitivo. Fui humilhado e quero de volta os meus trabalhos – e quero responsabilizá-los por mudar tudo", afirma Krajcberg. O artista alega que as esculturas receberam emendas e que "irá fotografar tudo se a Justiça pedir". Também afirma que, em seu ateliê na Bahia, será necessário deslocar cinco técnicos para trabalhar durante um ano na recuperação das esculturas.

"Precariamente de posse"

De acordo com o presidente da FCC, Paulino Viapiana, as peças estavam "precariamente de posse do município até setembro de 2005". Ou seja, foram cedidas sob um compromisso informal durante cerca de dez anos. Não havia responsabilidades delegadas à cidade com clareza e, por isso, segundo Viapiana, foi assinado um termo de doação, em setembro de 2005, que colocou as esculturas legalmente sob a posse de Curitiba.

Na oportunidade também foi elaborado um plano de restauração das obras, que incluia a vinda de uma equipe de Krajcberg em fevereiro de 2006 para montar um ateliê de restauro das peças e criar um manual de preservação. Também estava planejada a vinda de dois técnicos, custeada pela FCC, para elaboração de um laudo, intervenção nas obras, adequação do espaços, além de prestação de consultoria para a aquisição de equipamentos e contratação de um restaurador local. "Krajcberg não mandou as pessoas para cá", alega Viapiana.

O artista se reuniu com o presidente da FCC e com o prefeito Beto Richa em agosto, quando manifestou sua insatisfação. "Ele sugeriu que as obras fossem devolvidas para restauro. Nós achamos o custo desse procedimento muito elevado em função do transporte, do valor do seguro e de outros empecilhos. Mas queremos e vamos fazer todo o possível para cuidar bem dessas obras. Acho que houve um mal-entendido", afirma Viapiana. Segundo ele, a FCC está com cinco projetos de captação de recursos para o espaço, que prevê, inclusive, a instalação de uma biblioteca.

Perguntado se a cidade pode perder as obras, Viapiana diz não ver como isso poderia acontecer. Krajcberg alega que enviou uma carta há seis dias para o prefeito Beto Richa relatando a situação e solicitando a devolução. "Estou esperando uma resposta. Eles querem fazer uma manobra para continuar com esse espaço. Sou absolutamente contra e não vou mais querer ser humilhado. Renovar? Sempre foi abandonado. É a segunda vez que tenho esse problema, e é a última. Não vou deixar de jeito nenhum. Quero que feche imediatamente", disse Krajcberg.

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