“Não ter lido Hamlet ao longo da vida é como tê-la passado no fundo de uma mina de carvão”. A frase do escritor japonês Haruki Murakami serve como uma boa medida de importância do texto da peça escrita por William Shakespeare (1564-1616), mas também cria um problema.

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Se é verdadeira, há uma multidão de leitores, especialmente os mais jovens, que não passam de rudes mineiros. Pois, ainda que a chegada ao topo seja prazerosa, não são fáceis as trilhas da escalada narrativa, criada entre 1599 e 1601, e que conta a história do jovem e pusilânime que hesita em vingar seu pai, o rei da Dinamarca, morto pelo próprio irmão.

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Diante da questão, o escritor Rodrigo Lacerda se propôs a fazer um guia de leitura da peça no livro Hamlet ou Amleto? – Shakespeare Para Jovens Curiosos e Adultos Preguiçosos.

Livro

Hamlet ou Amleto? – Shakespeare Para Jovens Curiosos e Adultos Preguiçosos

Rodrigo Lacerda. Zahar, 296 pp., R$ 35.

Segundo Lacerda, sua ideia era fazer uma adaptação que não apenas recontasse a história tal qual ela foi escrita originalmente, mas que pusesse jovens leitores em contato com a força de sua “poesia dramática”.

Sua estratégia foi criar um personagem narrador: um preparador de elencos que guia o leitor (e este é tratado no livro como se fosse um ator estreante que vai protagonizar Hamlet).

Lacerda acredita que a presença dessa voz narrativa cria uma “cama” para o leitor iniciante e abre atalhos para chegar ao texto. “A maioria dos leitores tem dificuldade em ler teatro. Somos acostumados a nos orientar por um narrador na ficção que constrói nossa visão da história. No teatro, não há subjetivismo, mas uma construção objetiva dos personagens através de falas e atos”, observa.

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Ele adverte que, no entanto, o livro não deve ser confundido com as versões de alguns textos dramáticos reescritos de forma supostamente mais palatável para leitores não iniciados. “Isso causa um prejuízo muito grande. O leitor jovem acaba não tendo contato com o texto propriamente dito e, ainda que as histórias sejam muito boas, o que conta mesmo é a poesia”, diz Lacerda.

Fontes

O autor destaca também que as tramas levadas ao palco por Shakespeare em regra não eram originais e, muitas vezes, adaptadas de contos folclóricos escandinavos, italianos e celtas. “Se você suprime o texto e o reescreve com outras palavras, sobra pouca coisa de Shakespeare.”

Não é o caso deste guia. Entre as explicações, contextualizações e referências, todo o texto da peça está no livro em tradução do próprio Lacerda.