Não dá para não chorar a perda de uma das melhores atrizes do país. Se fosse possível, seria mais sensato sorrir, pois até mesmo em sua morte Lala Schneider fez o que quis. "Ela sempre dizia que gostaria de fechar os olhos e morrer", conta o sobrinho Osmar Silveira. A atriz, que em 23 de abril completaria 81 anos, faleceu às 9h15 da manhã de ontem, enquanto dormia. "Ela devia estar sonhando. Ela sonhava muito na vida", diz a sobrinha Esmeralda Chaim.
Talvez sonhasse com o palco, de onde nunca se afastou ao longo de 57 anos de carreira como atriz de teatro, televisão e cinema, diretora e professora de interpretação. Para consolar a amiga e atriz Nena Inoue, a atriz Ana Rosa Tender disse a frase que define Lala Schneider: "Ela sempre fez o que quis e cumpriu o que se propôs".
É verdade. Em maio do ano passado, a ex-professora de teatro do Teatro de Comédia do Paraná, do Centro Cultural Teatro Guaíra, pôs os pés pela primeira vez no Guairão. "Ela já tinha passado por todos os teatros da cidade, só faltava o Guairão", conta a amiga Rosana Santos, produtora da Orquestra Sinfônica do Paraná. Lala narrou a ópera para crianças Chip and His Dog, do compositor Giancarlo Menotti, sob direção artística de Denise Sartori e regência de Alessandro Sangiorgi, da Orquestra Sinfônica do Paraná.
A danada também realizou outro sonho, pouco antes de morrer: transformou-se na personagem Clara, da peça A Visita da Velha Senhora, de Friedrich Dürrenmatt, para compor o calendário Heroínas 2006, em que a Simplicissimus Produções Teatrais reúne ensaios fotográficos de atrizes paranaenses interpretando as heroínas que gostariam de representar. "Ela sempre quis encenar a Clara e, de alguma forma, foi possível proporcionar a ela essa possibilidade", conta Esmeralda.
Trajetória
Nascida em Irati, interior do Paraná, Lala Schneider veio de carroça para Curitiba, ainda pequena. Criou-se na Vila Hauer, onde viveu até a sua morte, rodeada de nove sobrinhos e um sem-número de sobrinhos-netos. Com ela, em uma casa repleta de cartazes, fotos de peças em que atuou e troféus recebidos, viviam o filho Eugênio Schneider Pereira e a neta Vitória. "Ela adorava o Boqueirão e a Vila Hauer", conta a atriz Nena Inoue.
Até o fim de seu vida, Lala nunca parou de trabalhar. Dividia o seu tempo entre as participações em peças e filmes, palestras nas escolas, idas ao curso de teatro Lala Schneider que criou há sete anos no Sesc-Senat , e a vida doméstica, que incluía uma roda de chimarrão diária com as sobrinhas.
Em seu último dia de vida, foi ao banco e deu seu passeio habitual pelo bairro. Apesar das dores causadas por um acidente de carro sofrido há cerca de um ano, que deixou seqüelas nas costelas e lhe rendeu um pino de platina no ombro, Lala continuava "serelepe", como bem define a amiga Rosana Santos, produtora da Orquestra Sinfônica do Paraná. "Quando viajávamos apertados em uma van para apresentar O Vampiro e a Polaquinha pelo interior do estado, ela era a mais velha e a única que nunca reclamava", conta Santos, que produziu o espetáculo dirigido por Ademar Guerra.
A atriz profissionalizou-se nos primeiros tempos do Teatro de Comédia do Paraná, em 1963. Mas o período que lembrava com mais carinho era o de quando era amadora, no Teatro de Adultos do Sesi, e apresentava peças na periferia de Curitiba. Foi lá que atuou pela primeira vez, no espetáculo O Poder do Amor, em 1950. "Ela dizia que o teatro amador era um teatro de amor", revela Esmeralda.
O enterro será realizado hoje, às 10 horas, no Cemitério do Boqueirão (R. Waldemar Loureiro Campos, 2.977).
PT apresenta novo “PL da Censura” para regular redes após crescimento da direita nas urnas
Janjapalooza terá apoio de estatais e “cachês simbólicos” devem somar R$ 900 mil
Não há inflação baixa sem controle de gastos: Banco Central repete alerta a Lula
De 6×1 a 4×3: PEC da redução de jornada é populista e pode ser “armadilha” para o emprego
Deixe sua opinião