Não é à toa que Las Acacias, primeiro longa-metragem do argentino Pablo Giorgelli, conquistou o prêmio Câmera de Ouro do Festival de Cannes deste ano e integrou diversas mostras internacionais. O filme, que também esteve em exibição na 35ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo consegue, com poucos elementos e diálogos, mostrar a história e a personalidade das três pessoas que viajam, a bordo de um modesto caminhão, de Assunção, no Paraguai, até a capital argentina, Buenos Aires.
O road movie traz a história de Rubén, um motorista solitário e duro, que não parece se comover com nada. Até o dia em que ele é obrigado pelo chefe a dar carona até Buenos Aires para uma jovem mãe solteira, Jacinta, que trouxe junto sua filha de cinco meses, Anahí, sem que Rubén soubesse. Na rota dos personagens, se descobre nos diálogos escassos e curtos, nas expressões faciais e nas pequenas atitudes muitos elementos sobre o passado de cada um deles, mas sem escancarar suas trajetórias ou pintar a vida de ambos como "sofridas".
Aos poucos, Rubén, que também é um homem de poucas gentilezas, começa a se comover com a história de Jacinta e com a simpática criança. No começo da viagem, o motorista não oferecia nem um gole de água para o bebê, que salivava ao observar a garrafa. Na metade do trajeto, ele já para o veículo para fumar fora do carro, um ato solidário com a mãe e a criança. O diretor, aliás, conseguiu fazer com que a menina tivesse um papel fundamental e cômico dentro da trama, já que os poucos choros e alguns dos olhares e gracinhas de Anahí casam perfeitamente com as cenas.
Os longos silêncios, que poderiam deixar o filme arrastado, pelo contrário, contribuem para o desenrolar do longa. A aparência da estrada, que também poderia soar monótona, tem tudo a ver com a rigidez dos personagens. Giorgelli, que teve seu filme considerado uma obra-prima pela crítica em Cannes, conseguiu fazer algo envolvente sem precisar de muitos enfeites ou elementos. Observando a trama com atenção, é possível tirar alguns recados dado pelo diretor nas entrelinhas, como, por exemplo, as más condições de trabalho e a busca por uma vida melhor em um país estrangeiro.
Argentina
Apesar de ser uma coprodução entre Espanha e Argentina, Las Acacias é mais um bom exemplo do forte e ótimo cinema produzido no país vizinho. A nova onda de cinematografia argentina, que começou na década de 1990 com produções de Lucrecia Martel, Marcelo Piñeyro e Pablo Trapero, trouxe tanto um salto na qualidade técnica como uma nova linguagem, fonte onde Giorgelli bebe. O cinema dele é sutil, consegue conferir um caráter autoral à produção, que, mesmo deixando de lado o excesso de explicações, não extrapola a capacidade de entendimento do espectador, que certamente é conquistado pela narrativa e por suas lacunas repletas de emoções implícitas.
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