
Depois de prestar serviços por 17 anos como um dos guarda-costas mais próximos e confiáveis de Fidel Castro, Juan Reinaldo Sánchez foi considerado "traidor da pátria", jogado em uma prisão com condições desumanas e torturado. Isso, obviamente, é motivo de muita mágoa e ressentimento com seu país e com o general en jefe de Cuba, que considerava um ídolo. Após dois anos de cárcere (de 1994 a 1996), Sánchez realizou diversas tentativas frustradas de fuga teve êxito em 2008. Desde então, vive na Flórida, e resolveu escrever um livro para "desmascarar" Fidel.
De fato, ele consegue: no livro A Vida Secreta de Fidel (Paralela), há detalhes sobre um paraíso particular do 15.º presidente de Cuba, cujo governo, hoje assumido por seu irmão, Raúl Castro, continua sendo muito criticado pela comunidade internacional por violações aos direitos humanos. Entretanto, os anos de Castro no poder alcançaram altos índices de desenvolvimento humano e social, com erradicação do analfabetismo e da desnutrição infantil, por exemplo. Porém, enquanto os cubanos enfrentam racionamento de comida, Fidel esnobava na ilha de Cayo Piedra, desde os anos 1960.
Pescaria submarina, uma piscina de água doce e até uma criação particular de golfinhos faziam parte do universo da ilha. Além de alguns líderes políticos em visita a Cuba, havia habitués, como o escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014).
Sánchez também detalha os treinamentos para resguardar Fidel. Além da pesada preparação física, os guardas estudavam casos de atentados famosos como o assassinato de John Kennedy, em 1963. Outro mérito do livro é discorrer sobre o lado familiar de Fidel Castro além das esposas, o guarda-costas brinca que o chefe adorava praticar o que chama de "esporte nacional de Cuba": a infidelidade.
Excessos
Tudo corria bem para Sánchez: tinha um trabalho invejado, muito reconhecido socialmente, família e uma posição de confiança ao lado de Fidel. Mas, alguns episódios o levaram a se decepcionar com o líder, e pedir a aposentadoria em 1994. Mas Sánchez foi preso, e considerado traidor, porque sua filha e um irmão haviam deixado a ilha. Um desses casos é o fuzilamento do general Arnaldo Ochoa, além de um suposto envolvimento de Fidel com o narcotráfico. O autor descreve esses episódios de forma muito sentimental, e até ingênua, o que não convence o leitor. As histórias são interessantes, mas faltou contá-las de uma maneira mais atraente. E sem tantos e irritantes pontos de exclamação. GG






