Legião revisitado, 30 anos depois

• 0

Ao completar 30 anos de carreira, depois de passar por diversas fases na música instrumental, acompanhar nomes como Belchior, Tunai e Baby do Brasil e mergulhar na música erudita e no jazz, o guitarrista Kadu Lambach resolveu olhar sua trajetória sob outra perspectiva. O resultado é uma coincidência que chega a parecer insólita: ao revisitar seus primeiros passos como músico, acabou às voltas com a releitura de uma das maiores bandas da história do rock brasileiro: a Legião Urbana.

VÍDEO: Assista ao bate-papo com Giuliano Manfredini, que fala da relação com o pai Renato Russo

"Todo mundo tem uma primeira banda de rock. A minha, por incrível que pareça, foi a Legião", diz Lambach, idealizador do show O Legionário do Som – Homenagem aos 30 Anos do Legião Urbana, que acontece hoje, às 21 horas, no Canal da Música (R. Júlio Perneta, 695). Trata-se da primeira homenagem à banda brasiliense em 2012 que conta com o apoio da família de Renato Russo e do empresário Fernando Vieira.

A apresentação tem Lambach na guitarra e seus parceiros da cena musical curitibana (da qual o músico faz parte há cinco anos). Os vocalistas Rogério Vivaz, Jordana Soleti e Sérgio Henrique, junto com Jeff Sabbag nos teclados, Victor Beltrame na bateria e Daniel Selfer no baixo tocam sucessos como "Tempo Perdido", "Ainda É Cedo", "Que País É Este" e "Geração Coca-Cola" – consideradas emblemáticas por Lambach.

"Foi um momento de grande evolução do rock", diz o guitarrista, que foi convidado por Renato Russo a entrar em sua nova banda logo após o fim do Aborto Elétrico, em 1982. "As letras do Renato diziam respeito a um período da ditadura que estávamos vivendo. Ele estava indo contra isso, com um con­teúdo enorme e falando uma linguagem que, até ali, ninguém estava falando", diz. Depois de cerca de um ano e meio, o guitarrista deixava a Legião Urbana para se dedicar aos estudos de música, mas continuou contando com o vocalista da banda como um conselheiro musical.

"Vou mexer na obra do Legião com todo o cuidado estético", diz Lambach, que planeja um CD com a mesma proposta – arranjos sofisticados, com pitadas de jazz, blues e até reggae. "Existe uma responsabilidade muito grande, que tem pesado sobre meus ombros. Mas está coerente."

Herdeiro

O apoio da família traz ao show muita carga emotiva. Em conversa com a Gazeta do Povo, o filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini, de 22 anos, disse estar empolgado em ouvir Kadu tocar pela primeira vez. Ele também falou do interesse em garantir a qualidade dos projetos de preservação da memória da banda. "O Kadu é um virtuose e tem um peso na história do rock nacional. Desde o início nós queríamos apoiá-lo. A nova geração precisa conhecer a história do Legião Urbana, entender o rock dos anos 80, que afetou a política e o jeito de pensar."

Depois, ele quer levar o show para Brasília, onde outras homenagens já estão em andamento neste ano. Está em negociações adiantadas o projeto Renato Sinfônico, pelo qual a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília fará novos arranjos para músicas do grupo – um sonho de Renato. Um memorial multiuso com café e arena para shows, a revitalização de pontos da cidade que serviram de inspiração para as letras e três filmes completam o pacote. O documentário Rock Brasília – A Era de Ouro (Vladimir Carvalho) já foi lançado, e estão em fase de produção a ficção Faroeste Caboclo (Renê Sampaio) e a cinebiografia Somos Tão Jovens (Antônio Carlos da Fontoura).

Serviço:

Legionário do Som – Homenagem aos 30 Anos do Legião Urbana. Canal da Música (R. Júlio Perneta, 695), (41) 3331-7513. Hoje, às 21 horas. R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada).

Cultura e Lazer | 3:15

Giuliano Manfredini, também músico, fala sobre os passatempos favoritos com o pai, a convivência e como vê a influência do rock do Legião Urbana nos jovens de hoje.