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Como diria Umberto Eco, a literatura é um banquete que serve a todos. Enquanto uns se refestelam com a imaginação do autor, outros querem mais é saber se o que está sendo narrado aconteceu mesmo.

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“De modo geral, os leitores procuram no romance histórico a ‘verdade’ da História. Há, contudo, uma percepção diferente entre verdade histórica e verdade ficcional. A literatura pode ‘inventar’ e contar aquilo que à História, por seu compromisso com a objetividade, não é permitido narrar. Isso não significa que a literatura é mentira, mas ela adentra por terrenos e situações que a História não faz e, por isso, seu discurso é mais crítico”, avalia a professora Maria Eunice Moreira, da PUC-RS.

Novos limites da ficção histórica

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Hoje é corrente o pensamento de que a própria história é uma narrativa, conforme teorizou, bagunçando o terreno, o norte-americano Hayden White. Se na academia já é difícil alcançar uma verdade absoluta, muito menos se exige da ficção que se “atenha” a fatos considerados verídicos por convenção.

Com essa ideia – mas fazendo um longo adendo na primeira página sobre o papel da literatura – o paranaense Miguel Sanches Neto imagina Hitler no Brasil em pleno aquecimento do nazismo em seu recente “A Segunda Pátria”. No livro, um engenheiro negro e uma espiã de origem alemã se veem vítimas da máquina exterminadora nazista instalada em pleno território nacional.

Eis outro traço recorrente do novo romance histórico: a distorção consciente do discurso histórico, seja com omissões, exageros ou anacronismos. A ideia de Sanches Neto partiu de um convite da editora Intrínseca, e tornou necessário enfrentar o tabu do racismo brasileiro, tão velado.

“Todo texto literário já é por si só, mesmo quando muito colado aos fatos, um desvio ficcional”, escreveu o autor à reportagem. “Num romance de história alternativa, ampliamos ao máximo esta distorção. O desafio era não ter medo de criar um mundo paralelo sobre um tema que é tabu no Brasil, pois nos acreditamos pacíficos e amigos de todos.”

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Entretenimento

Se esse tipo de obra tem seu público, outra fatia já prefere o “entretenimento histórico”, como os livros policiais de Ana Miranda (“Boca do Inferno”, “O Retrato do Rei”) e os próprios escritos de Chico Buarque. “O exemplo máximo seria ‘O Xangô de Bakerstreet’ (de Jô Soares), que faz a releitura de uma série de romances do século 19, incluindo Sherlock Holmes, e é engraçado”, avalia Esteves.

Vem a calhar a observação de um dos narradores de Bernardo Carvalho em “Nove Noites”: “A verdade está perdida entre todas as contradições e os disparates”.