Quadrinhos muitas vezes rimam com suspense. E o clima sombrio e sangrento que reina em “Beladona”, de Ana Recalde e Denis Mello foi adaptado para o palco no Cena HQ desta quarta-feira (4), com apresentação única no Teatro da Caixa.
A história criada pela dupla do Rio de Janeiro fala de Samanta, que desde a infância é atormentada por pesadelos. Ao acompanhar seu desenvolvimento, da adolescência à idade adulta, conhecemos algumas figuras que estão por trás da manipulação de sua mente – e quando se dá conta disso, Samanta se torna Beladona, destemida e poderosa, mas também opressora. Como acontece muitas vezes, há um longo caminho até um desejado equilíbrio.
“Existe a mistura de realidade e sonho, mas também uma ligação clara com o movimento feminista, de libertação da sociedade heteronormativa”, explica a diretora da encenação, Angela Stadler.
A leitura política da obra a fez decidir por uma equipe técnica e artística toda formada por mulheres. Em cena, as atrizes Isadora Terra, Michelle Rodrigues, Talita Neves e Vida Santos. Na cabine, jovens profissionais de luz e som.
Para transpor a atmosfera de terror para o palco, Angela conta ter “abusado de efeitos sonoros”. Ao contrário da tradição de leituras do Cena HQ, ela optou pelo uso de vários microfones, justamente para obter os efeitos vocais desejados na sonoplastia.
O uso de roupas brancas e largas permite a projeção de cores sobre o figurino– a HQ de Ana e Denis prima pelos tons de roxo, preto e branco, que Angela também aproveitou.
CENA HQ
Teatro da Caixa (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Dia 4 às 20h. Entrada franca, com retirada de ingressos a partir das 19 horas. Classificação indicativa: 14 anos. A HQ pode ser consultada em http://petisco.org/beladona.
Inovação
Este já é o quarto ano em que o Cena HQ acontece todo mês, de março a dezembro, no Teatro da Caixa. E os próximos três meses não terão interrupção para as férias, até completar 40 apresentações, em fevereiro, com o novo quadrinho de José Aguiar, “A Infância do Brasil”. Aguiar é um dos organizadores, ao lado do diretor Paulo Biscaia Filho.
As sessões costumam lotar, com um público formado por amantes dos quadrinhos, fãs de teatro e curiosos pelo tema da vez – a encenação de um quadrinho chamado “Kardec”, por exemplo, atraiu grande número de espíritas. “Há casos de espectadores que não perderam nenhum até agora”, conta José Aguiar.
A maior parte das encenações ultrapassa o escopo da leitura dramática, utilizando recursos do teatro que por vezes resultam em espetáculos prontos.
As próximas encenações serão “O Louco”, de Rogério Coelho (dezembro) e “A Vida de Jonas”, em janeiro. Para o restante de 2016, ainda não há confirmação de apoios e patrocínios.
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