Há 17 anos, o livro no Brasil deixava de ser um objeto exclusivo de prateleiras de livrarias e bibliotecas.
Espaços como padarias, açougues, supermercados, saguões de hotéis, rodoviárias e aeroportos se tornaram pontos de venda de literatura desde que a editora gaúcha L&PM resolveu apostar no formato de livros de bolso.
Sucesso em países como Estados Unidos e França, o formato demorou a se consolidar no mercado brasileiro em razão de uma "ideia acabada" que os editores tinham, segundo Ivan Pinheiro Machado, um dos sócios da L&PM.
"Havia uma mentalidade elitista, que vinha desde os anos 1930, e supunha que um livro no Brasil não vende mais, porque é mais barato. Se pensava que livros eram consumidos por um pequeno número de pessoas para quem o preço não era problema", explica Machado.
"A gente desafiou este conceito e lançamos nossa coleção para tentar democratizar a venda e a leitura no país", diz. "O livro era um objeto de decoração e passou a ser um objeto prático e portátil", conclui.
Crise
Machado conta que a coleção de bolso surgiu num momento de uma crise econômica que alcançou o mercado editorial, após a implementação do plano Real (em 1994), "com juros muito altos e com as multinacionais entrando pesado no mercado". "Com pouca capacidade de investimento, começamos a buscar alternativas. Criamos o projeto do livro de bolso partindo da constatação de que o formato é consagrado em todo o mundo e funcionaria aqui também", afirma.
Desde então, a coleção L&PM Pocket conta com mais de 1,2 mil títulos, que vão de clássicos em capa dura a quadrinhos infantis e livros de receitas.
Hoje em dia, muitas outras editoras, como a Companhia das Letras, apostam no formato. Para Machado, um dos pioneiros da L&PM, no entanto, a diferença é que o catálogo de sua coleção não é identificado como "caça-níquel" pelos consumidores.
"As coisas mais importantes que a gente fez estão lá", garante. Como exemplo, cita as 22 peças de William Shakespeare traduzidas por Beatriz Viegas e Millôr Fernandes que constam no catálogo pocket.
Para o editor, a grande alma deste projeto é sua logística.
"Hoje, o Brasil tem cerca de mil livrarias que honram o nome. Com nossos livros de bolso, atingimos quatro vezes mais pontos", afirma. "Temos muito orgulho de ver livros sendo vendidos em açougues no Rio Grande do Sul ou em padarias curitibanas", destaca.
Mangás
Em fevereiro de 2011, a L&PM inovou e anunciou um contrato com a editora japonesa Shogakukan para a publicação de dois títulos de mangá no formato de bolso Solanin, de Inio Asano, e Boken Shonen, de Mitsuru Adachi.
A aposta agradou tanto que no ano passado a L&PM lançou em formato de mangá clássicos da literatura mundial, como O Contrato Social, de Jean Jaques Rosseau, e A Metamorfose, de Franz Kafka.
"É uma estratégia para pegar tanto aquele adolescente que lê mangás, quanto o cara que deseja reler esses livros fundamentais", aposta Machado.
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