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Proibido Retornar volta depois de uma passagem pelo Fringe, a convite de Chico Pelúcio, do Grupo Galpão | Daniel Protzner / Divulgação
Proibido Retornar volta depois de uma passagem pelo Fringe, a convite de Chico Pelúcio, do Grupo Galpão| Foto: Daniel Protzner / Divulgação

"Singélidos" habitantes

Cinza, gelada e singela é a Curitiba retratada por Luiz Felipe Leprevost na peça Já Viu como um Pinguim Anda? ou Cuidado, um Abismo Nublado Pode Estar Tramando Algo Inimaginável, que estreia amanhã, às 20 horas, no Teatro Novelas Curitibanas (R. Pres. Carlos Cavalcanti, 1.222).

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Quem fosse ao Teatro Novelas Curitibanas ver o espetáculo mineiro Proibido Retornar, durante o Fringe, entrava no meio de uma balada: luzes, fumaça, cardápio de drinks e hostess. Tudo parte da confusão sonora e visual que o grupo Teatro Invertido salienta na vida urbana, em choque com uma mais pacata e idealizada vivência no interior.

A ambientação se repete agora no Teuni, com a volta do espetáculo à cidade depois da experiência no Festival de Curitiba. Serão duas apresentações, hoje e amanhã, às 20 horas (confira o serviço completo).

Proibido Retornar acompanha a trajetória de um homem criado no interior mineiro, que migra para a capital e se depara com uma realidade hostil e agressiva. Foi feito em um esquema de criação coletiva, em que os cinco integrantes do grupo se envolveram.

A pesquisa lhes tomou o ano de 2008. Dedicados a explorar os cinco sentidos humanos, eles formaram cinco núcleos de trabalho para criar micropeças. Em cada uma, um integrante assumia a direção, outro a dramaturgia e os três restantes atuavam.

Inspirada pelo olfato, a micropeça "Essência", escrita por Leonardo Lessa e dirigida por Rita Maia, virou Proibido Retornar. O tema do olfato puxou a ideia de trabalhar a memória. "No nosso caso, a memória da infância da maioria dos atores, que vêm do interior – menos eu", diz Lessa.

Enquanto os demais resgatavam essa infância interiorana em tons bucólicos e até mesmo oníricos, o autor do argumento contribuiu com uma experiência diversa. "Propus como contraponto a minha realidade urbana massificada, cruel, materialista. O olhar mais lírico do interior solapado pelas relações de trabalho e de comércio", diz.

Nesse embate, a realidade urbana acaba vilanizada. Lessa concorda que retratam o interior com certa "ingenuidade", mas espera do público uma reação: "Mesmo que fique muito polarizado, o espectador põe um olhar crítico", diz.

Os quatro sentidos que faltavam foram trabalhados, criando momentos em que a plateia se integra à encenação. Em um dos mais interessantes, experimenta fisicamente (ainda que sem contato corporal com os atores) o desalojamento do personagem retirante.

Fringe

Proibido Retornar é o quarto espetáculo do Teatro Invertido e a quarta vez que o grupo vem a Curitiba. Na primeira, trouxeram a peça Nossa Pequena Mahagonny ao Fringe de 2004 e foram embora prometendo que, naquelas condições, não retornariam. Aliás, segundo Lessa, os grupos de Belo Horizonte já estavam desestimulados a vir para a mostra paralela e desaparecer entre centenas de outras produções.

Voltaram um ano depois com Lugar Cativo, desta vez na mostra ACT em Ação Compartilhada. E, em março, como convidados de Chico Pelúcio, do Grupo Galpão, para compôr a programação do Fringe sob sua curadoria.

"A diferença foi brutal em relação à primeira experiência", diz Lessa. Não tiveram cachê, mas ao menos não pagaram os custos de produção e receberam um percentual da bilheteria. Mesmo destacados da grande massa de espetáculos e com o aval de um curador, con­­tudo, a dificuldade de atrair plateia persistiu. O público foi "enxuto", conta o ator e diretor.

Mais uma vez em Curitiba, como convidados de uma rede de ensino a participar de um evento sobre cultura urbana e capitalismo, o grupo quis aproveitar a viagem e mostrar o espetáculo a mais gente.

Serviço:

Proibido Retornar. Teuni – Teatro Experimental da UFPR (Trav. Alfredo Bufren, 140 – Pça. Santos Andrade), (41) 3310-2740. Grupo Teatro Invertido. Texto, direção e atuação de Camilo Lélis, Kelly Crifer e Rita Maia. Dias 28 e 29, às 20 horas. R$ 10 e R$ 5 (meia). Classificação indicativa: 16 anos. Confira o serviço completo

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