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Cruz e Sousa, expoente máximo do simbolismo, se transforma no "Blues & Sousa". Jesus surge como um dos maiores poetas líricos da humanidade, e mentor de um socialismo utópico. Trótski e a Revolução Russa ganham uma surpreendente abordagem a partir da perspectiva de "Os Irmãos Karamázov"", de Dostoiévski. Em Bashô, pai do haikai japonês, o cruzamento entre o zen e a arte. Talvez só Paulo Leminski, com sua poderosa imaginação, fosse capaz de agregar personalidades tão distintas em um mesmo ciclo de biografias. Escritas entre 1983 e 1986, elas foram lançadas separadamente pela editora Brasiliense. Até recentemente, eram vendidas a peso de ouro nos sebos -um exemplar não saía por menos de R$ 250. O curitibano sempre desejou que as obras fossem reeditadas em um só volume. Em 90, houve uma primeira edição, pela Sulina. No final de setembro, a Companhia das Letras relançou o volume. Segundo a editora, já foram vendidos 6.000 exemplares (de uma tiragem de 15 mil). "Toda Poesia", reunindo sua obra poética, lançado em fevereiro, já bateu os 65 mil. Contudo o projeto gráfico da reedição não é um consenso. As cores chamativas das capas e as manchas gráficas aplicadas em "Toda Poesia" dividem opiniões. Sofia Mariutti, editora do selo, explica a opção: "a ideia de usar pingos de nanquim foi tirada da obra de Leminski, influenciado pela cultura oriental". Heróis Por que afinal Leminski teria decidido perfilar estes quatro? Segundo o prefácio assinado pela poeta Alice Ruiz, sua parceira por mais de 20 anos, eles foram seus heróis por excelência -entre outros que traduziu (do original), como Joyce, Lennon, Petrônio, Jarry, Becket, Mishima. Para Manoel Ricardo de Lima, professor de literatura da UniRio, as biografias evidenciam um projeto comum na obra de Leminski: "Em tudo que fez, esboça-se a construção de um autorretrato". Leminski era filho de mãe negra e pai polaco --mestiço como Cruz e Sousa. Foi faixa preta de judô. Ex-seminarista que quase se tornou monge beneditino. Admirava Trótski a tal ponto que se tivesse tido um filho seria Leon. Talvez por conta de tanta afinidade, nota-se uma modulação do senso crítico. O texto de "Vida" não obedece aos cânones da biografia clássica. À laboriosa pesquisa, somam-se pequenas intervenções ficcionais. Como quando conclui que Cruz e Sousa teria inventado o blues, se fosse nascido na América do Norte. Ou que, em "Jesus", "foram os profetas que inventaram o futuro, assim como os poetas inventarão o presente e os homens de ação inventam o passado sem cessar". VIDA - CRUZ E SOUSA, BASHô, JESUS E TRÓTSKI AUTOR Paulo Leminski EDITORA Companhia das Letras QUANTO R$ 46 (392 págs.)

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