Diana Krall, George Benson, Orishas e Cake já vieram. Nas próximas semanas será a vez de Avril Lavigne, Weezer, The Raveonettes e Mercury Rev. E, até o final do ano, mais precisamente no dia 30 de novembro, a presença do Pearl Jam também já está garantida. É só impressão ou Curitiba (finalmente) está voltando a sediar médios e grandes shows internacionais, após um período de quase ostracismo?

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De acordo com dois produtores locais, responsáveis pela vinda da maioria dos artistas citados acima, a proliferação dos eventos no calendário curitibano de 2005 é apenas o esboço de uma retomada. Falta de espaços adequados, excesso de burocracia na hora de regularizar um evento, instabilidade do público da cidade e, principalmente, ausência de apoio das empresas locais são fatores que, embora dificultem a produção de shows, vêm sendo contornados aos poucos pelos realizadores.

Para Fábio Neves, diretor da Seven Prom, empresa responsável pela produção de shows de grande porte, (como os de Avril Lavigne e Pearl Jam), o hiato na programação cultural local deve-se, em parte, ao incidente ocorrido em 31 de maio de 2003, no Jockey Club do Paraná, em que três adolescentes morreram pisoteados na entrada de um evento organizado sem levar em conta exigências referentes à segurança. "Isso atrapalhou a cidade, assustou e tirou a visão dos patrocinadores. Ainda mais após a exposição nacional do cancelamento do Kaiser Music", explica. O evento, que traria as bandas Deep Purple, The Hellacopters e Sepultura, em setembro de 2003, foi cancelado em duas ocasiões, uma na Pedreira Paulo Leminski, outra no Expotrade, em Pinhais (região metropolitana de Curitiba), três horas antes de sua realização, pelo não cumprimento das exigências feitas pelo Corpo de Bombeiros.

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Meses após a tragédia do Jockey, foi criada a Comissão de Análise de Grandes Eventos, órgão da Secretaria Municipal de Urbanismo de Curitiba, responsável por acompanhar e fiscalizar o andamento de pedidos de realização de eventos em locais que não possuem alvará definitivo, como a Pedreira Paulo Leminski, por exemplo. Neves, um dos integrantes da comissão, garante que o órgão, apesar de exigir uma relação extensa de documentos, contribuiu para pôr a cidade de volta na rota das turnês internacionais, além de ter afastado os produtores mais "picaretas".

"É burocrático buscar a liberação, mas o processo garante a segurança do evento. A documentação exigida assusta, mas é necessária", justifica.

Quem assina embaixo é a produtora Paola Wescher, responsável pelas três edições do festival Curitiba Pop Festival (que, este ano, trocou o "pop" do nome, por "rock"). O evento, que acontece nos próximos dias 24 e 25 de setembro, na Pedreira, trará as bandas internacionais Weezer, The Raveonettes e Mercury Rev em única apresentação na América Latina, além de 15 grupos nacionais. "Os problemas estão sendo solucionados. Os produtores estão vendo que passar pela comissão é chato, mas não é nenhum bicho de sete cabeças", explica.

Para a produtora, o maior obstáculo à retomada do calendário de grandes shows em Curitiba continua sendo a falta de visão dos empresários da cidade. Tanto que, para realizar a terceira edição de seu festival, Paola partiu para São Paulo a fim de garantir as verbas necessárias, todas conseguidas com empresas nacionais. "Sei que as verbas locais são menores do que as nacionais, mas acho um absurdo a cidade não investir no festival, porque ele traz muita gente de fora, movimenta o turismo. Esses dias até um dono de hotel me ligou para agradecer. É uma pena que a cidade não o veja como um investimento", lamenta, destacando que além das excursões que vêm de diferentes regiões do país, o CRF irá receber um ônibus vindo do Chile, com 22 pessoas, e outro da Argentina, com 44.

Outro empecilho destacado por ambos os produtores é a falta de costume dos curitibanos de gastar dinheiro para assistir aos shows que acontecem na cidade. "Curitiba não é uma boa praça, é traiçoeira. O curitibano não tem essa cultura de pagar para ir a shows. Em compensação, vai a restaurantes mais de uma vez por semana e paga R$ 15 só para entrar em determinados lugares", critica Paola.

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Tanto que, segundo Neves, tanto o show de Avril Lavigne, quanto o CRF tiveram reclamações registradas no Procon por pessoas que consideram o preço dos ingressos abusivos. "O investimento do festival dobrou, o cachê das bandas, tanto nacionais quanto internacionais, aumentou, os custos com a estrutura cresceram e o valor de patrocínio é menor do que no ano passado", numera Paola, justificando os R$ 120 cobrados por cada dia do CRF.

A reforma do Parque das Pedreiras, que inclui a Ópera de Arame e a Pedreira Paulo Leminski, são vistas com otimismo por Neves e Paola, que ressaltam a redução dos custos de produção caso o projeto realmente saia do papel. A Fundação Cultural de Curitiba prevê um orçamento de R$ 5 milhões para as modificações na Ópera, que devem acontecer no início do ano que vem, e possivelmente, devem englobar as adequações na Pedreira Paulo Leminski.