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Em “Les Cowboys”, estreia do roteirista Thomas Bidegain na direção, os ecos de “Rastros de Ódio”, de John Ford (1956) são visíveis, mas fica claro que não se trata de uma imitação e sim de uma inspiração.

Depois de passar por Cannes e Toronto, o filme foi recebido com merecidíssimos aplausos na sexta-feira (18), na prévia para a imprensa da 53.ª edição do Festival de Nova York.

A história segue Alain (François Damiens) e a busca desesperada por sua filha que desapareceu repentinamente. Na medida em que os anos passam e as pistas vão enfraquecendo, a procura se torna obsessiva, principalmente depois que ele sabe que ela está com seu namorado muçulmano.

Esse é o viés que liga o filme de Bidegain ao clássico de Ford, mas no caso de “Les Cowboys” o roteiro toma formas inesperadas e proporções épicas no Afeganistão pós 11 de Setembro. Com muito talento, o diretor faz uma conexão entre os fatos que ocorriam naquelas décadas de 50 e 60 e os tempos de hoje.

Parceiro constante de Jacques Audiard (como roteirista de “O Profeta”, “Dheepan” e outros) Bidegain conta que a ideia do filme surgiu quando um amigo lhe falou sobre as comunidades rurais e a oportunidade de fazer um faroeste lá.

“Conversando com Noé (Debré, co-roteirista do filme), pensamos inicialmente numa adaptação ou um remake, mas quando a gente está com uma ideia em mente, os personagens nascem. Escrevi alguma coisa, voltei a falar com ele, fui a um produtor e o filme aconteceu”, diz o diretor, enfatizando a importância desse trabalho conjunto.

“Foi realmente muito bom trabalhar com Noé, que é um grande escritor. Pedi para ele fazer exatamente como faço com Jacques (Audiard): escrevo anotações sobre o filme, faço adições, reescrevo cenas, vejo a edição, assisto a um pouco de tudo. Essa é a minha ideia de ser roteirista. O filme continua a ser escrito durante a filmagem e até o seu final. E Noé fez isso por mim”, reconhece.

Segundo ele, a escolha do belga François Damiens para ser o protagonista também foi inspirada por “Rastros de Ódio”.

“Eu precisava de uma espécie de John Wayne e, na maior parte das vezes, atores franceses tem uma pequena compleição, eu queria alguém corpulento como ele”, explica.

Sobre sua passagem para trás das câmeras, Bidegain acha que foi no tempo certo.

“Eu tive a chance de dirigir um filme mais tardiamente, assim estava muito menos virgem do que muitos primeiros cineastas. Além disso, eu não sentia necessidade de estar no centro das atenções, estava muito confortável como roteirista”, afirma Bidegain, que espera uma boa receptividade do público para seu filme.

“Quando a gente está perto de um filme por tanto tempo, é importante o feedback para saber o que ele diz para as pessoas”, ressalta.

Quanto a isso, o talentoso cineasta não precisa se preocupar: seu filme diz muito e é com certeza um dos melhores dessa safra de produções recentes.

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