Antanas inspecionou a montagem de sua exposição no MON| Foto: Felipe Rosa/Gazeta do Povo

Serviço

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Um retrato do interior da Lituânia nos anos 1960 ficou para sempre gravado na obra de Antanas Sutkus, fotógrafo que pode ser considerado um arauto da cultura de seu país e cuja exposição Um Olhar Livre será inaugurada amanhã, às 19 horas, no Museu Oscar Niemeyer (Veja o serviço completo da exposição no Guia Gazeta do Povo). Há quem diga que as particularidades desta e de outras nações que pertenceram à antiga União Soviética tenham sido estranguladas durante a longa invasão, mas Sutkus, de 72 anos, não concorda. "Como a cultura poderia ter desaparecido, se hoje essas fotografias estão andando pelo mundo inteiro?"

Sutkus, que explica seu trabalho como "apenas um meio" que ele encontrou para "mostrar a independência do espírito lituano", seguia um método bastante subjetivo na escolha de seus temas e na hora de clicá-los. Quando fala sobre isso, mal espera a tradutora russa fazer seu trabalho e puxa a cadeira para mais perto. "Para fotografar as pessoas, é preciso ter um contato espiritual com elas, entender a alma delas. Tem que gostar, amar, sentir, ter uma certa atitude em relação a elas. Só assim você terá uma correspondência. Não é mais você quem dirige. Alguém aperta o botão da câmera, não é você que tira a fotografia. Acho que é alguma coisa lá de cima." O artista conta também que podia fazer dez fotos só em uma rua de vila, e depois levar a manhã toda esperando por uma única imagem que valesse o registro.

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Além de fotos de povoados, com crianças nas escolas, brincando, ou simplesmente agarradas à mãe, famílias reunidas e trabalhadores se deslocando, a exposição de Sutkus, inédita no Brasil, inclui uma coleção de oito retratos do filósofo Jean-Paul Sartre, feitos em 1965 durante um passeio de cinco dias em que o fotógrafo acompanhou o francês. "Um dia ele me perguntou se eu escrevia poesia ou prosa, e eu respondi que nem cartas de amor fazia. Eu estava fotografando e ele nem tinha percebido." Sartre só permitia que o conterrâneo Henri-Cartier Bresson o fotografasse profissionalmente, explica Sutkus.

Entusiasmo

A maior parte das fotos que compõem a exposição ficou escondida na época em que foi feita, devido à censura. Depois, Sutkus assumiu uma organização de fotógrafos e diminuiu o ritmo de sua atividade artística, ao mesmo tempo em que começou a divulgar seu trabalho pelo mundo e a publicar livros.

Apesar de hoje não fotografar mais, Sutkus comprou no Brasil uma câmera digital e passeava ontem pela sala onde suas ampliações estavam sendo arranjadas, tentando entender como funciona o aparelho. Entre suas ressalvas contra os equipamentos atuais estão a perda de espontaneidade dos fotografados e o prejuízo trazido pelos múltiplos cliques, que, para ele, interferem no instante único de cada imagem.

"Tenho muita pena de ter chegado ao Brasil só agora, e não dez anos atrás, quando eu era mais forte. Fiquei impressionado estudando os brasileiros, eles têm uma dignidade de espírito, uma liberdade."

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No Leste Europeu, ele lamenta um espírito de concorrência interna e um preconceito, por parte do Ocidente, que hoje fazem com que só se publique livros de fotografia daqueles que emigaram, ou então edições que distorcem a realidade, focadas na suposta degradação da região.

Serviço

Antanas Sutkus: Um Olhar Livre. Museu Oscar Niemeyer (Rua Marechal Hermes, 999 – Centro Cívico), (41) 3350-4400. Abertura dia 2, às 19 horas, com entrada franca e precedida de bate-papo, às 17 horas, com a presença de Sergio Burgi, João Urban e Fernanda Magalhães. De 3ª a dom., das 10 às 18h, com ingressos a R$ 4 e R$ 2 (meia). Até 20 de maio.