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Zé Ramalho apresenta seu novo show em Curitiba | Divulgação/Grupo Jam
Zé Ramalho apresenta seu novo show em Curitiba| Foto: Divulgação/Grupo Jam

"Se a gente não sair daqui melhor, sai ao menos resignado." É este o otimismo que o Barão de Itararé prega em uma de suas tantas conferências. Se em vida o humorista Apparício Torelly incorporou e praticamente se confundiu com o célebre e irreverente personagem que criou, a ponto de a família até hoje referir-se a ele como o "barão", no palco do Teatro Sesc da Esquina quem encarna a figura e profere suas ironias é o ator Márcio Vito, à frente do monólogo A Sobrancelha É o Bigode do Olho.

O barão, na verdade, nasceu "Duque" de Itararé, em 1931. Foi uma autocondecoração irônica inspirada na batalha que não aconteceu, mas seria decisiva, entre as forças de Getúlio Vargas e Washington Luís durante a Revolução de 1930, no município de Itararé, na divisa entre São Paulo e Paraná. Mais tarde, em um "acesso de modéstia" o humorista decidiu rebaixar o próprio título e se contentar com a mera alcunha de barão.

"Ele é um nobre fajuto, próximo a todos os poderoso do mundo e com conhecimento questionável", define Márcio Vitor. "É um personagem que absorve e representa tudo o que o Apparício intimamente sempre criticou". A observação, segundo o ator, é dos cartunistas Fortuna e Jaguar, que fizeram um vasto trabalho de pesquisa, infelizmente perdido, sobre a obra do barão, copiando à mão os textos publicados no jornal A Manha, na tentativa de organizar uma antologia do humorista.

A Sobrancelha É o Bigode do Olho retorna a Curitiba depois de uma elogiada passagem pela cidade durante o Festival de Teatro deste ano. A montagem dirigida por Nelson Xavier reproduz uma das típicas conferências apresentadas pelo Barão de Itararé, elas próprias críticas à moda então propagada de realizar conferências sobre temas diversos, importada da Europa no início do século 20. Os assuntos comentados pelo Barão de Itararé, porém, são os mais absurdos, sempre abordados com viés otimista e um subtexto de crítica comportamental.

"A gente passeia pelo humor mais nonsense do barão: a anemia e a palidez curadas pela maquiagem e tratadas como assunto de saúde; como tomar remédios repugnantes; e a influência dos colarinhos moles na formação do caráter da pessoa – um colarinho de 12 centímetros garantiria ao Brasil soberania nacional porque os nossos diplomatas estariam de cabeça erguida", diverte-se Vito.

De posse de seu saber peculiar, o barão coleciona argumentos para defender outros impropérios como a cura da neurastenia através das cócegas – afinal, os abonados não precisam se preocupar com os custos do tratamento e os desprovidos sempre ficam relegados ao último plano. Às falas deste homem tão irônico quanto crítico, entremeiam-se trechos de uma entrevista dada por Apparício Torelly à revista Realidade em 1971, ano em que morreu. "Ele sempre deu entrevistas brincando e saindo pela tangente. De repente a gente se deparou com uma entrevista séria, que falava sobre tolerância e paz. Colocamos em alguns momentos do espetáculo como a voz do pai do personagem.", conta Vito.

Apesar das décadas passadas desde a invenção do personagem e de suas observações sobre o ser humano, não há por que duvidar da pertinência e atualidade do seu discurso. "As críticas de comportamento ainda são muito relevantes, infelizmente. As criticas políticas eram direcionadas, mas se você adaptar ou lê-las como estão, vai achar que não mudou nada e os políticos são todos iguais mesmo", opina o ator.

O personagem da peça herdou do real a barba comprida, os bigodes sobre os lábios, o terno branco e a discreta dificuldade de mover a perna esquerda. A construção da personalidade, entretanto, não partiu de pesquisas históricas, mas do próprio texto escrito por Ivan Jaf. "Pra nossa surpresa, as pessoas que o conheceram acharam muito parecido com o jeito e o humor do barão", conta o ator.

Serviço: A Sobrancelha É o Bigode do Olho – Uma Conferência do Barão de Itararé. Sesc da Esquina (Rua Visconde do Rio Branco, 969), (41) 3304-2222. Hoje e amanhã, às 21 horas. Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (estudantes, comerciários e pessoas acima de 60 anos).

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