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Nova versão do disco lançado por Celso Fonseca e Ronaldo Bastos em 1997 é uma obra coletiva | Divulgação
Nova versão do disco lançado por Celso Fonseca e Ronaldo Bastos em 1997 é uma obra coletiva| Foto: Divulgação

É preciso prestar muita atenção quando um disco atual é comparado a Chega de Saudade (João Gilberto, 1959) e Clube da Esquina (Milton Nascimento e Lô Borges, 1972), duas obras fundamentais da música brasileira do século 20. O crítico e historiador musical Zuza Homem de Mello acaba de fazer esta comparação com o recém-refeito e relançado Liebe Paradiso (Dubas Música), de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos – este, não coincidentemente, também foi letrista e produtor de Clube da Esquina.

A história deste disco começa na década de 90 do século passado, quando há o encontro artístico da dupla. A parceria rendeu uma trilogia, da qual Paradiso é o produto do meio, com canções perfeitas em um estilo que foi batizado como "slow motion bossa-nova".

Passados mais de dez anos do lançamento de Paradiso (1997), Ronaldo Bastos encontrava-se em uma cruzada política e uma encruzilhada artístico-empresarial. Metera-se numa discussão interminável – pouco compreensível para quem não é do ramo – sobre direitos autorais e internet. Desgastou-se. "A polêmica começou a ficar rala, eu estava sendo arrastado e precisava de um projeto que me salvasse, que me resgatasse", lembra Bastos.

Nessa época, recebeu uma herança que poderia lhe dar uma folga para um novo projeto. Comentou o caso com o produtor uruguaio radicado no Rio de Janeiro Leonel Pereda. Ouviu então, pela primeira vez, a ideia de refazer o Paradiso, um disco de autores, uma pequena joia que foi influente entre os músicos, mas desconhecida do público.

Para ele, uma remasterização, ou remix, soaria como se fosse uma vingança. "A vingança não vale uma obra de arte", resume. Teria de ser feito de outra forma. "Deveria ser um projeto de vida, ter significado de mudança, de firmar valores, de importância para a arte brasileira", afirma o parceiro de músicos como Tom Jobim, Milton Nascimento, Edu Lobo e Caetano Veloso e proprietário do selo Dubas Música – que já lançou outros tantos bons discos brasileiros que vão de João Donato a Os The Darma Lóvers.

Desconstrução

Ideia aceita, foi chamado o jovem engenheiro de som e produtor Duda Mello. O primeiro passo foi desconstruir o disco original até deixá-lo no esqueleto. A partir daí, procuraram um timbre, um som próprio que desse uma nova orientação para o disco. "Foi tudo feito sem plano de viagem, sem astrolábio", lembra Bastos. Celso Fonseca passou seis meses no estúdio na primeira etapa e depois deixou tudo nas mãos dos produtores, em total confiança. O trabalho demorou quase três anos para ser concluído.

Os produtores também criaram e convidaram outros artistas para participações especiais. Gravaram Nana Caymmi (sensacional em "Flor da Noite"), Milton Nascimento, Paulo Miklos, Luiz Melodia (na mais conhecida "Ela Vai pro Mar"), Marcos Valle, Sandra de Sá e Kassim, entre muitos outros.

Em um momento de bloqueio criativo, os produtores viajaram para a Alemanha. "Queria ir para um lugar onde não soubesse a língua", lembra o autor de "Nada Será como Antes". E foi lá que o disco recebeu no título o acréscimo da palavra "liebe", que significa amor, em alemão. Foi também a ideia de um amor romântico que o fez escolher um poema de Goethe para ser lido no original logo na canção de abertura, "Paradiso".

Os músicos convidados aderiram tanto ao projeto que alguns até interpretaram de forma diferente do que fazem em seus próprios discos. Por isso, Ronaldo Bastos não tem dúvida ao afirmar que Liebe Paradiso é uma obra coletiva.

Leia mais sobre o disco Liebe Paradiso no Blog Sobretudo

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