Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Nova Iorque – Embora com as mesmas visões femininas singulares e fortes, a francesa Catherine Breillat desta vez viajou no tempo para realizar seu novo filme.

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Uma Velha Amante (Une Veille Maitresse) – mostrado anteontem na 45.ª edição do Festival de Nova Iorque – é baseado no livro do escritor Jules Barbey d’ Aurevilly (1808-89).

O início da história se situa em Paris em fevereiro de 1835 e segue Ryno de Marigny (Fu’ad Ait Aatou), um libertino que está prestes a se casar com a pura e rica aristocrata Hermangarde (Roxane Mesquida). Para isso, precisa pôr fim a uma relação de dez anos que tem com a tempestuosa espanhola Vellini, uma cortesã já se aproximando dos 30 anos, interpretada pela cultuada Asia Argento, filha do diretor Dario Argento.

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Preocupada com o futuro da neta, a avó de Hermangarde, a marquesa de Flers (Claude Sarraute) tem uma conversa franca com o futuro noivo alguns dias antes do casamento. Essa é uma das partes mais interessantes do filme, com um longo flashback lembrando a vida tumultuada de De Marigny na última década, dentro e fora dos braços da Vellini.

O subtexto do filme e sua relevância atemporal são satisfatoriamente ricos mostrando as mulheres exercitando a sua sabedoria duramente conquistada num mundo cujos valores são predominantemente masculinos.

O trabalho de locação é bem balanceado, ora fechado num drama de alcova, ora voltado para grandes e maravilhosas seqüências externas . A diretora optou por tomadas abertas e close-ups fantásticos, tudo fotografado pelo ótimo veterano grego Yorgos Arvanitis.

Na coletiva após a projeção, Catherine falou sobre a inspiração para o filme, a respeito de seu trabalho como cineasta e também do derrame que sofreu em outubro de 2004.

O que a levou a fazer esse filme?Quando eu li o livro do Barbey, fiquei fascinada pela história o obcecada pela idéia de adaptá-lo para as telas. Eu costumo dizer que se eu tivesse nascido em outro século, eu certamente teria sido a autora desse livro, com todos os seus significados escondidos e o caminho delicado que, provavelmente, o autor precisou trilhar, para contornar os ditames impostos pela censura da época.

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No trabalho de adaptação, você foi fiel à obra?Não totalmente. Procurei manter sua essência, mas foi necessário fazer alguns ajustes, o principal deles quanto ao tamanho da obra. Precisei cortar muitos trechos para adaptá-la.

Como você conseguiu captar tão bem a atmosfera do século 18 e trazê-la para o filme?Isso não foi difícil porque, assim como a personagem da marquesa de Flers, eu me identifico muito com o século 18. Acho que ele foi muito mais liberal do que o século 19, quando as classes médias tomaram o poder, trazendo um enorme reacionarismo e princípios morais rigorosos, muitos deles não-autênticos ou quase sempre encobertos sob alguns elementos próximos a valores da hipocrisia.

Que reações você tem tido e que resultados você espera com o filme?Meus filmes anteriores foram considerados escandalosos ou nefastos, mas eles não me representam realmente. Eu acho que este filme corresponde à minha personalidade porque representa o meu "eu", que não se rebela contra as palavras ou os tabus. Eu acho que este é o meu filme mais acessível para o público em geral e acho que os espectadores vão gostar.

Qual foi a maior dificuldade para fazer o filme?Eu sei que eu teria feito um filme diferente se eu não tivesse tido o derrame. Eu cheguei até a pensar que não seria possível fazer o filme, mas estava errada ou o impossível aconteceu. A coragem para fazê-lo veio de fato do produtor ter aceito o desafio, pois era um alto orçamento. Mas o que eu posso dizer é que ultimamente minha vida tem sido investir neste longa. Este é o meu trabalho mais querido.