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Se alguém vê O Mundo de Jack e Rose sem saber coisa alguma sobre a história, desconfia que os personagens do título, interpretados por Daniel Day-Lewis e Camilla Belle, são pai e filha. "Desconfia" porque não dá para ter certeza. Vivendo em uma ilha na costa leste americana, sem televisão e isolados de (quase) tudo, agem como se habitassem um mundo perdido. São de fato os últimos moradores de uma comunidade hippie que falhou ao tentar pôr em prática a idéia de uma sociedade ideal, onde as pessoas desempenhavam funções específicas (engenheiro, pedreiro, carpinteiro, etc.).

A palavra "filha" aparece pela primeira vez com quase meia hora de filme. Apesar disso, permanece uma certa atmosfera que mistura amor e sexualidade. Jack tem um problema no coração que pode matá-lo a qualquer momento. Preocupado com o futuro da filha e das poucas coisas que possui, decide levar sua amante Kathleen (Catherine Keener) para a ilha. Ele erra ao não se importar com o que pensaria a filha. Abre a casa para hóspedes – pois a amante leva seus dois filhos bizarros consigo – sem consultá-la.

O ambiente que era de harmonia e cumplicidade, vira uma espécie de guerra por território. Rose não esconde a decepção com o pai e, mais de uma vez, tenta matar a intrusa Kathleen, em tentativas hilárias. Uma das qualidades da história é a capacidade de transitar entre o cômico e o trágico, o amor e o sexo, fazendo o pequeno mundo da ilha refletir uma espécie de realidade universal.

Rebecca Miller trabalhou no roteiro de O Mundo de Jack e Rose durante mais de uma década. Em meados dos anos 90, deu início à produção, mas ela não deslanchou. Conseguiu sair do papel quando convenceu o marido, Daniel Day-Lewis, a encarnar Jack, pouco depois de trabalhar para Martin Scorsese em Gangues de Nova York (2002).

O fato de Rebecca ser filha de um dos maiores dramaturgos dos EUA, Arthur Miller (1915 – 2005), autor de A Morte do Caixeiro-Viajante, dá para O Mundo de Jack e Rose um interesse extra. A autora que procurou sondar o poder e os limites do amor entre pai e filha teve, na figura paterna, uma influência e uma fonte de inspiração. Ela recém-escreveu o roteiro de The Man Who Had All the Luck ("O homem que teve toda a sorte"), baseado em uma peça de Arthur Miller.

Foi o pai que colocou Rebecca em contato com Day-Lewis. O ator britânico radicado na Irlanda trabalhou em uma versão de As Bruxas de Salem (1996), contracenando com Winona Ryder. O roteiro foi escrito por Miller a partir de sua peça teatral. Várias reuniões foram realizadas na casa do escritor. Em uma delas, Day-Lewis conheceu Rebecca. Eles se casaram em 1996 e tiveram dois filhos.

Uma curiosidade sobre O Mundo de Jack e Rose – que não passou pelos cinemas de Curitiba – é a atriz Camilla Belle. Filha de pai americano e mãe brasileira, fala português com fluência e apareceu até no Fantástico, da Rede Globo, dizendo que gosta de feijoada, brigadeiro e pão-de-queijo. Alguns traços de Belle lembram os da jovem Isabelle Adjani (atriz francesa de A Rainha Margot). Linda e talentosa, só falta o naco de sorte imprescindível para se tornar uma estrela. GGG1/2

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