Obra do autor mineiro trafega entre a casa e a rua. Pirolli foi um dos grandes contistas do país| Foto: Wanderpiroli.com.br/Divulgação

Livros

O Matador e Três Menos um É Igual a Sete

Wander Piroli. Cosac Naify. R$ 36,90 cada.

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O lirismo do mineiro Wander Piroli (1931-2006) era áspero. Como autor de obras adultas e famosos livros infantis, era uma figura entre a casa e a rua. Suas páginas eram frequentadas por bêbados, prostitutas e malandros – daí a alcunha de "João Antônio mineiro", até por ser amigo do escritor paulistano morto em 1996 –, mas também pelas histórias que viveu no seio da família. Nos anos 1970, foi visto como um dos grandes do conto nacional e da literatura para crianças. E, embora alguns de seus livros tenham continuado a receber edições aqui e ali, Wander Piroli acabou caindo no ostracismo.

Agora, porém, sua obra começa a ser resgatada. A editora Cosac Naify acaba de comprar os direitos de publicação de Wander Piroli e começa a relançar seus livros, com inéditos a caminho. As duas primeiras obras escolhidas foram o póstumo O Matador (publicado pela primeira vez em 2008), com ilustrações de Odilon Moraes, e o inédito Três Menos um É Igual a Sete, com ilustrações de Lelis. Também estão no projeto os livros mais cultuados de Piroli: Os Rios Morrem de Sede e O Menino e o Pinto do Menino.

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"Wander tem um lirismo brutal. Quando lançou Os Rios... e O Menino... foi um estrondo. Ele é representante do realismo na literatura infantil. Mas os realistas que vieram depois dele tinham uma coisa da realidade social. Já ele explora mais a crueza do cotidiano – afirma Odilon Moraes. "Além de ele ter um texto muito generoso com a imagem. Como no cinema, em que o texto precisa da imagem para existir."

O Matador é um bom exemplo do lirismo brutal de Piroli, que costuma ser admirado mesmo por adultos por sua subversão. No livro, meninos de uma rua matam passarinhos com estilingues, mas um deles, o protagonista, não consegue acertar os animais. Por isso, ele fala da raiva e da vergonha que sente perante os amigos. A tensão da narrativa cresce, até que ela termina de forma triste, num jogo de clímax e anticlímax.

Os Rios Morrem de Sede, baseado numa história pessoal, também tem seu momento subversivo: a obra, infantil, termina com um palavrão. Amante da natureza, Piroli já falava em ecologia antes de virar moda. O Menino e o Pinto do Menino, por sua vez, parte de um título dúbio para contar a história de um garoto e seu pintinho.