Frankfurt (AE) As listas perseguem o escritor inglês Nick Hornby e delas ele não escapou na Feira de Livros de Frankfurt, O autor de Alta Fidelidade, Um Grande Garoto e Febre de Bola teve de fazer uma pequena lista para uma atenta platéia que se apertava ontem para acompanhar sua meia-hora de conversa no Sofá Azul, evento promovido pelo jornal Die Zeit com diversos escritores europeus.
"Por quê é preciso ler Charles Dickens hoje", começou ele: "1) Criou inúmeros personagens, o que facilita a identificação para qualquer um; 2) ele escrevia para as pessoas comuns e não para os esnobes; 3) como publicava antes em jornais, suas histórias têm vários momentos de tensão, como acontece hoje nas novelas de TV; 4) e, em David Copperfield, ele se revelou o primeiro escritor pós-modernista da história, mesmo sem saber, ao criar um personagem que se torna escritor."
Careca, orelhas de abano, dentes irregulares, voz ligeiramente parecida com a do Pato Donald, nada parece empanar o brilho de Hornby, que atrai uma legião de fãs em seus lançamentos, desde vovozinhas nada cerimoniosas, que dão cotoveladas para se aproximar de seu ídolo, até os tradicionais jovens cabeludos. Em Frankfurt, ele encerra a turnê alemã do lançamento de seu mais recente livro, A Long Way Down.
O assunto é pesado: quatro suicidas se encontram na cobertura de um edifício na véspera do ano novo. Ali, unidos pela tristeza e pelo fracasso, eles buscam a última chance de melhorar sua vida. "Pensei um bocado antes de começar a escrever, pois sentia a história como algo muito forte", disse ele.
E, como prova de é um dos midas modernos, Hornby teve os direitos de seu livro comprados para o cinema pela Warner Brothers antes mesmo de seu lançamento, em maio. A cifra foi mantida em sigilo, mas já se sabe que a produção será de Johnny Depp.
A escrita não parece ter segredo para Hornby, que não aposta em texto rebuscado. "Nunca me interessei pela linguagem, pois ela é apenas uma ferramenta para o que tenho a dizer", explica. "Se minha intenção é falar sobre um copo dágua, escrevo apenas isso, um copo dágua, não preciso de mais nada."
Também a literatura ainda é um caminho que o autor britânico aos poucos vai trilhando. Depois de confessar que normalmente lia apenas escritores de sua língua, Hornby contou que, ao passar duas semanas na casa de amigos na Islândia, foi "apresentado" à literatura árabe. "Gostei muito, pois é diferente do que estou acostumado a ler."
Antes de enfrentar uma fila que já se formava em busca de seu autógrafo, Hornby confessou ainda que não ficou surpreso com a premiação de Harold Pinter com o Nobel de literatura, na semana passada. Segundo ele, o dramaturgo inglês exibe uma carreira notável e, ultimamente, especializou-se em atirar verbalmente contra governantes como Tony Blair e George W. Bush, o que lhe dá muita credibilidade.
A presença de Hornby esquentou a Feira de Frankfurt que, em seu segundo dia, teve mais presença de público que na abertura, quando os estandes estavam praticamente vazios. A medição pode ser feita pelo pavilhão onde se reúnem as editoras dos Estados Unidos: único a exigir que o visitante seja revistado antes de entrar, o espaço não foi tomado por filas, como normalmente acontece.
Os editores brasileiros, porém, enfrentaram uma série de reuniões de negócios. "São quase dez por dia", comentou Rodrigo Lacerda, da Cosac Naify. "O período mais intenso são os três primeiros dias da feira, quando os principais agentes do mundo estão em Frankfurt, depois o interesse cai."
O encontro mundial do livro também serve de pano de fundo para a entrega do prestigiado Prêmio da Paz dos livreiros alemães, que este ano será concedido ao romancista turco Orhan Pamuk. A edição deste ano nem bem acabou, mas já se fala na convidada especial da edição de 2006, que será a Índia. E a de 2007, a Catalunha (Espanha).
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