Estante japa
Obras e autores que se destacam na literatura japonesa contemporânea:
Kafka à Beira-Mar (Estação Liberdade)
Haruki Murakami
Duas estranhas personagens em uma história carregada de mistérios. Kafka Tamura tem 15 anos e é perseguido por uma maldição. Nakata é um idoso que dedica sua vida a procurar gatos desaparecidos. O autor, de linguagem ligeira e acessível, é o que poderia se chamar de Nick Hornby do Japão.
Uma Questão Pessoal (Companhia das Letras)
Kenzaburo Oe
Baseado em uma experiência pessoal, Oe conta a história de um professor que, perambulando por bares de Tóquio, recebe a notícia: ele será pai de uma criança com anomalia cerebral. A obra foi considerada densa e pessimista. Oe busca referências em Apollinaire, Yeats, e Mark Twain para relatar a vida real.
Quinquilharias Nakano (Estação Liberdade)
Hiromi Kawakami
Um pequeno retrato de uma Tóquio nem sempre visível. A escritora japonesa escreve personagens singulares que giram em torno de estabelecimentos bizarros. Kawakami é reconhecida por seu estilo, ao mesmo tempo refinado e enxuto, e por temas recorrentes como as reviravoltas da vida.
Sayonara, Gangsters (Ediouro)
Genichiro Takahashi
Um professor de poesia numa escola em que ninguém faz absolutamente nada, a não ser conversar. Os alunos, bizarros: um paga o curso vendendo picolés de baunilha, outro está transmutado numa geladeira; há ainda a Coisa Incompreensível, que muda de cor e emite ruídos estranhos.
Experimente conversar com alguém que gosta de literatura japonesa. Um leitor de O Som da Montanha, de Yasunari Kawabata (1899-1972), por exemplo. É provável que este alguém faça restrições severas à literatura de Haruki Murakami, torcendo o nariz por se tratar do escritor japonês vivo mais "ocidentalizado" de que se tem notícia.
Talvez essa característica explique o sucesso de Murakami, hoje com 61 anos, em países como os Estados Unidos, ou revele algo sobre o Japão atual. O país deixa a lentidão e o silêncio da cerimônia do chá pela confusão e pelo volume de um karaokê.
Em livros como Kafka à Beira-mar e Após o Anoitecer (ambos pela Alfaguara), Murakami impõe um ritmo cinematográfico ao texto e usa referências do rock-and-roll e do pop. O autor que é também maratonista chegou a batizar um de seus romances com o nome de uma música dos Beatles, "Norwegian Wood".
Apenas uma fração pequena da literatura japonesa contemporânea é traduzida para o português. A Estação Liberdade, com um catálogo pródigo em títulos do país de Eiji Yoshikawa (do clássico Musashi), publicou há pouco Quinquilharias Nakano, de Hiromi Kawakami, 52 anos.
A Companhia das Letras é quem edita no Brasil o vencedor do Nobel de Literatura Kenzaburo Oe, de Uma Questão Pessoal. Oe tem 75 anos e um novo trabalho recém-traduzido em inglês, The Changeling, uma versão ficcionalizada do suicídio de seu cunhado, o cineasta Juzo Itami.
"Autores como a Kawakami [de Quinquilharias Nakano] fazem bastante referência à cultura ocidental", diz o editor Leandro Rodrigues, da Estação Liberdade. Ele explica que os autores atuais estão mais ligados ao caos das metrópoles e um ficcionista que vive em Tóquio acaba criando histórias que se aproximam daquelas produzidas por alguém que mora em São Paulo.
Quem procura narrativas que falem de tradições japonesas e de características exóticas para os ocidentais, com certeza, deve buscar nomes mais antigos. Porém, de acordo com Rodrigues, o leitor atual está em busca de algo "mais contemporâneo".
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