É possível acreditar em tudo o que se vê e ouve? E no que uma mulher com lapsos de memória e raramente sóbria diz que viu? Rachel, a perturbada protagonista do best-seller “A Garota no Trem”, aposta que um beijo avistado à distância é a chave para solucionar o desaparecimento de uma jovem.
Mas qual o papel dessa narradora que sequer consegue lembrar o que fez na noite do crime?
Leitores mundo afora estão dispostos a encontrar essas respostas.
Com mais de 4 milhões de exemplares vendidos em 44 países, o livro de estreia de Paula Hawkins – publicado no Brasil pela Record –, nascida no Zimbábue e radicada na Inglaterra, encabeça listas de mais vendidos e já garantiu sua adaptação para os cinemas: deve virar filme em 2016, com Emily Blunt no papel principal.
Mais um ponto em comum nas recorrentes comparações com “Garota Exemplar”, da americana Gillian Flynn, levado às telas em 2014. As semelhanças começam na trajetória das autoras, que migraram para a ficção depois de anos no jornalismo – o que certamente colaborou para a escrita ágil e enxuta de ambas.
Em seu site, Paula se diz lisonjeada com a comparação, mas destaca que, enquanto o livro de Gillian confronta pontos de vista de um casamento em erosão, “A Garota no Trem” flagra o que sobrou de Rachel após a separação.
Sob os efeitos da depressão e do alcoolismo, ela está sempre em busca de justificativas para o próximo trago ou para ligar pela enésima vez ao ex.
É esse turbilhão que a acompanha diariamente, quando embarca rumo a Londres, onde mata tempo o dia inteiro – na tentativa de esconder da amiga que a abrigou o fato de ter perdido o emprego.
Na jornada sobre os trilhos, avista de dentro do vagão a casa onde foi feliz quando era casada e os vizinhos que idealiza como um casal perfeito, apelidando-os de Jess e Jason.
Até que “Jess” desaparece, e Rachel julga ter a pista que a polícia e o marido desesperado buscam.
Livro
Paula Hawkins. Tradução de Simone Campos. Record, 378 pp., R$ 35.
Apesar de o livro levar alguns capítulos até mostrar a que veio, Paula Hawkins demonstra habilidade em costurar uma trama intrigante, que desafia o leitor.
Assim como em “Garota Exemplar”, é preciso descobrir em quem e no que acreditar. Nem o fato de o leitor mais atento antever o final atrapalha: a graça está em observar como a autora conduz a trama e como uma personagem tão exasperante e pouco inspiradora como Rachel pode despertar a sua torcida.
Com o perdão do trocadilho, “A Garota no Trem” vale a viagem.